Título: Eu e nem mesmo o Serra nunca deixamos de ter laços com o PMDB
Autor:
Fonte: O Globo, 16/10/2010, O País, p. 12
Aqueles que queriam vê-lo candidato à Presidência este ano acham que uma vitória de Serra agora inviabilizará sua candidatura também em 2014. Há algum acordo entre o senhor e Serra para que ele não dispute a reeleição, caso eleito, e apoie seu nome?
AÉCIO: Só quem não me conhece acharia que eu vou colocar um projeto meu, individual, à frente de um projeto do país. Apresentei no ano passado uma proposta de candidatura e a levei até onde achei que era possível. Quando percebi que poderia levar a uma cisão no partido, fiz minha opção, sem qualquer rancor. E fiz o que disse que faria, me dediquei à vitória do Anastasia.
Por que não aceitou ser vice de Serra?
AÉCIO: Declinei por achar que comprometeria a continuidade de um projeto exitoso em Minas. Sigo muito a máxima do meu velho avô Tancredo Neves, que dizia que Presidência é destino, não é projeto. Eu me sentirei extremamente feliz de estar participando de um projeto de Brasil capitaneado por Serra. Tive pelo menos três conversas longas com Serra nos últimos dez dias e tenho percebido que ele quer governar com um grupo político.
Como conquistar os votos dos eleitores da Marina?
AÉCIO: O PV em Minas já anunciou o apoio a Serra, assim como o PP. Além disso, há um movimento que é da sociedade, de pessoas que estão com receio do que possa significar o governo da Dilma com a influência que o PT autoritário e anti-democrático teria. Essa volúpia de alguns aliados por cargos. Quando uma aliança política é feita sem qualquer amálgama de projetos, sem qualquer identidade programática, ela se dá exclusivamente pela ocupação de cargos. Por isso é que vejo um pouco solta essa aliança em torno da Dilma.
O Congresso eleito não daria maioria a um eventual governo Serra. Isso preocupa?
AÉCIO: Vai depender muito da capacidade dele (Serra) e de seus aliados. Maioria se constrói em torno de um programa, um projeto. Obviamente que eu estarei à disposição dele para isso. Teremos de ter conversas com várias forças políticas que estão do outro lado. Especialmente com o PMDB. Eu repito que o PMDB é um partido vital para governabilidade. Eu e nem mesmo o Serra nunca deixamos de ter alguns laços com o PMDB. E se vencermos as eleições, devemos chamá-los para uma conversa em torno dos interesses do país, assim como outros partidos que estão na base do governo atual.
Qual o principal desafio de Serra, se eleito?
AÉCIO: Apresentar ao país, nos primeiros 30 dias de governo, uma agenda de reformas. Reformas só se realizam no primeiro ano de governo, quando há capital político. Não se faz reforma constitucional no Brasil sem que o governo federal esteja engajado. É preciso que o presidente tenha disposição, coragem política para fazer reformas por mais que possam contrariar interesses. E faltou isso neste governo.
Depois de oito anos no poder, o PT está maduro para voltar para a oposição?
AÉCIO: A oposição fará muito bem ao PT. Ao PT que nasceu como um partido de massas, representante da classe trabalhadora, com valores éticos, que nos fez a todos, até seus adversários, respeitá-los. Aqueles que ainda acreditam neste PT, talvez até prefiram que o partido faça essa reciclagem na oposição. O exercício do poder pode ter feito bem à vida de alguns petistas, mas não fez muito bem à história do PT. O Brasil precisa de um partido como o PT e eu espero que ele na oposição possa se reciclar. O que me chama a atenção é a falta de generosidade do PT de reconhecer que o Brasil não foi descoberto por eles. Eles têm uma dificuldade quase física de verbalizar isso, de reconhecer em outros algum mérito. Eu, por exemplo, reconheço méritos do governo do presidente Lula, mas esses resultados foram atingidos porque, antes, tivemos os governos do Itamar Franco e do Fernando Henrique Cardoso.