Título: Reunião do G-8 sinaliza fraqueza
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Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2009, Economia, p. 12

Países mais ricos do mundo reúnem-se na Itália, onde pretendem fechar acordo de intenções sobre abertura comercial

O G-8, grupo formado pelos sete países mais industrializados do mundo (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá) e pela Rússia, reúne-se em L¿Aquila, na Itália com o G-5 (Brasil, Índia, China, México e África do Sul). Um comunicado preliminar sobre os objetivos do encontro de três dias prevê a tentativa de um acordo na área de comércio exterior, como forma de ajudar o desenvolvimento mundial. ¿Os líderes se comprometeram a chegar a uma conclusão desejada e equilibrada para a Rodada de Doha(1) em 2010, compatível com seu mandato, a partir do progresso já alcançado nas modalidades¿, informou um documento prévio preparado.

O descrédito sobre as boas intenções desses países em relação a Doha (negociação de abertura de mercados, especialmente agrícola e de serviços) é tamanho, que a inclusão desse objetivo como um dos pontos importantes do encontro demonstra fraqueza. Quando os líderes mundiais têm pouco ou nada a dizer, eles recorrem sistematicamente à citação de Doha. Essa rodada de negociações está congelada desde que uma reunião de ministros em julho do ano passado não conseguiu chegar a um acordo preliminar, ainda que Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) tenha dito que 80% acordo foram completados.

Lamy acredita que um acordo pode ser alcançado em 2010 porque o humor das negociações melhorou desde a reunião realizada este ano entre o representante comercial dos EUA, Ron Kirk, e o ministro do Comércio da Índia, Anand Sharma, países que são vistos como chaves para destravar o acordo.

Papa e dólar Em outra manobra para criar uma aura de utilidade à reunião, os Estados Unidos podem prometer de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões para o desenvolvimento agrícola de países pobres. Os EUA querem o apoio de parceiros (outras nações) para que esse volume chegue a US$ 15 bilhões.

Em princípio, nenhuma medida de impacto deve ser anunciada para combater a crise econômica mundial. Os países devem manter a aparência de que estão trabalhando em conjunto, quando na realidade cada um vem tomando as próprias medidas para reduzir o impacto do tsunami que começou no mercado financeiro. Por causa da reunião do G-8, o papa Bento VXI divulgou uma carta pedindo que os líderes criem regras duras para o sistema financeiro. Na encíclica, ele clamou por ¿uma autoridade política mundial verdadeira... para administrar a economia global¿ e evitar novos ¿abusos¿ do livre mercado.

China, Rússia e Brasil vão usar a cúpula do G-8 para defender a visão de que o mundo precisa começar a procurar uma nova moeda de reserva global como alternativa ao dólar. Tanto a Rússia, membro do G-8, quanto o Brasil, China e Índia, potêncisa emergentes, repetiram os pedidos para que um debate sobre a moeda global seja abraçado por líderes mundiais. Os Estados Unidos têm sido sistematicamente contra. Alemanha, França e Canadá descartaram um debate detalhado sobre moeda global na cúpula. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está bastante interessado em explorar ¿a possibilidade de novas relações comerciais não dependentes do dólar¿. Uma fonte do gabinete do presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que o G-8 ¿não é um fórum para discussão das taxas de câmbio¿.

Prisões Cerca de 40 pessoas, em sua maioria italianas, foram detidas em diversas manifestações de rua organizadas em Roma contra a cúpula. Os manifestantes antiglobalização incendiaram pneus e jogaram pedras e garrafas contra os carros da polícia. ¿Nós queremos mais uma vez nos mostrar contrários ao que o G-8 representa¿, disse uma estudante que se identificou como Maria Teresa.

As autoridades italianas organizaram um forte esquema de segurança para a cúpula do G-8, que acontece na cidade de L¿Aquila (centro), incluindo um plano de evacuação com helicópteros para os líderes mais poderosos do mundo em caso de ocorrência de terremotos, como os que devastaram a cidade recentemente.

1- SUBSÍDIOS A Rodada de Doha (referência à capital do Catar, cidade onde realizou-se a primeira reunião) foi criada no fim de 2001 para ajudar países pobres a crescer por meio do comércio, mas quase oito anos depois, as negociações têm fracassado repetidamente, enquanto as potências globais recusam propostas para reduzir tarifas e subsídios sobre bens, que vão de alimentos a produtos químicos.

Um país fechado

O Brasil é um dos países mais fechados do mundo para o comércio internacional, segundo o Fórum Econômico Mundial. A nação ocupa a 87ª posição no ranking de viabilidade comercial, divulgado em Genebra, com 121 países. Anteriormente, os brasileiros estavam em 80º lugar em um ranking de 118. O Brasil está atrás do Chile (19º ¿ mais bem colocado na América Latina), Costa Rica (43ª) e México (74º), mas supera a Argentina (97ª). Entre os Brics, perde para China (49ª) e Índia (76ª), ficando à frente da Rússia (109ª). ¿O nível de proteção no Brasil continua relativamente elevado, em particular para os produtos agrícolas¿, diz a entidade. Pesaram contra o Brasil a existência de barreiras tarifárias altas, os elevados encargos alfandegários, a má qualidade das estradas, a corrupção e a ineficiência do governo. Já as melhores notas foram obtidas pela rede de telecomunicações e serviços relacionados à competência logística.