Título: Organizações buscam governo e empresas
Autor: Spitz, Clarice; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 16/10/2010, Economia, p. 42/43

Casos de desvio de órgãos públicos prejudicam estratégia

RIO e PALMARES (PE). Na luta para sobreviver, ONGs estão se articulando para diversificar as fontes de recursos. Elas pedem um novo marco regulatório para desburocratizar o acesso ao financiamento junto a fundos públicos federais, estaduais e municipais, considerado um dos principais entraves atualmente.

O acesso a financiamento de empresas privadas também é visto como uma alternativa a ser mais bem explorada, na avaliação das organizações. Pesquisa qualitativa da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) junto a associadas mostra que o principal inconveniente, que seria uma possível ingerência das empresas nas ONGs, não figura entre as maiores preocupações.

- O desafio das ONGs no Brasil é se desenvolver com o apoio dos governos e da iniciativa privada, o que ainda é visto de maneira um pouco "ilícita", já que, infelizmente, existem casos de desvio de dinheiro de órgãos públicos utilizando organizações de fachada - considera Vera Masagão, da diretoria da Abong.

Redução da pobreza no Brasil afasta doadores

Outras organizações, como a Action Aid, que apadrinha crianças, planeja investir na ampliação dos doadores brasileiros para driblar as perdas de recursos externos. A organização, que contabiliza só neste ano perdas de 12% na receita em função do câmbio, sobrevive majoritariamente de doações vindas de cidadãos europeus. O objetivo agora é aumentar em dez vezes a fatia de recursos captados no Brasil, que hoje significam apenas 5% do orçamento da Action Aid Brasil e que devem saltar para 50% nos próximos cinco anos.

- A situação econômica da Europa é muito grave. Já houve redução de doadores de 2008 para cá e nós avaliamos que a visão de que há redução da pobreza no Brasil pode levar outras pessoas fora do país a preferirem não mais apoiar - avalia a socióloga Rosana Heringer, coordenadora-executiva da Action Aid.

Para Luca Sinesi, coordenador da IS Brasil, projetos no Norte e no Nordeste do país são os que correm maior risco de serem extintos com a redução de financiamento externo.

- O chamado é que o governo olhe, sobretudo, para essas regiões, porque muitas das organizações sobreviveram graças à cooperação internacional - afirma.

- O chamado é à sociedade brasileira, ao governo e ao empresariado, para que não esqueçam os projetos de fortalecimento da democracia, da educação, dos direitos - completa Sinesi. (Clarice Spitz e Letícia Lins)