Título: De receptor, país passa a exportar ajuda
Autor: Spitz, Clarice; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 16/10/2010, Economia, p. 42/43

Há cooperação técnica com 77 nações, a metade na África

Se a melhora da economia tem secado o acesso a fontes de recursos internacionais, muitas ONGs e o próprio governo brasileiro já consideram que chegou o momento de o Brasil passar a receber menos e "exportar" mais ajuda. A prestação de cooperação técnica feita pelo governo brasileiro se destina atualmente a 77 países, sendo que a metade deles se encontra no continente africano.

São projetos de curto prazo - no máximo, dois anos -, sobretudo treinamento de médicos e enfermeiros ou implantação de políticas públicas. O governo brasileiro não doa dinheiro, apenas presta cooperação técnica.

Cooperação tem orçamento de US$33,5 milhões este ano

Embora ainda inferior ao que os países ajudados recebem em acordos com Alemanha, Japão, Estados Unidos e França, o Brasil vem aumentando a cooperação prestada. O orçamento da Agência Brasileira de Cooperação, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, que chegou a ser de apenas US$ 528 mil em 2004, deve atingir este ano US$33,554 milhões. Com o aumento da cooperação, o Brasil vem mudando seu perfil no panorama internacional. Até o fim de 2010, o país contabiliza compromissos de cerca de US$120 milhões em projetos de cooperação nos próximos três anos.

- O Brasil passou a ser um ator mais presente. Há uma expectativa muito grande para que o Brasil seja mais atuante e há igualmente uma maior demanda por parte de países em desenvolvimento - afirma o ministro-diretor da Agência Brasileira de Cooperação, Marco Farani.

"Não dá mais para competir com a África por recursos"

Para Luca Sinesi, coordenador da IS Brasil, que atua nos segmentos de agricultura verde e prevenção a doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), as ONGs também precisam se reestruturar para preparar a cooperação internacional fora do país. Segundo ele, o esforço deve ser concentrado na África lusófona, em países como Angola, Moçambique e Cabo Verde.

- Não é só olhar para o passado e dizer: vamos voltar ao que era. Mas é importante que o Brasil se volte para fora, que se pense. É possível ter expectativas de cooperações inovadoras passando pelo governo e por ONGs brasileiras - afirma Sinesi.

Diretora da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), Vera Masagão, concorda:

- Temos de assumir agora que o papel do Brasil tem de ser de coautoria. Não dá mais para competir com países da África por recursos - afirma. (Clarice Spitz)