Título: Crise traz sindicatos à cena na UE
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Fonte: O Globo, 18/10/2010, Economia, p. 23
Depois de décadas no ostracismo, centrais tentam retomar influência política na Europa
LONDRES. As greves se multiplicaram em cidades europeias nos últimos meses para protestar contra os diversos pacotes de austeridade já adotados ou prestes a sê-lo por governos que tentam evitar um segundo mergulho na recessão. Porém, os protestos foram também uma oportunidade para os movimentos sindicais europeus voltarem à cena: depois de 40 anos de declínio de influência e participação, as centrais de trabalhadores sonham agora com a volta aos áureos tempos.
Desde 1970, os índices de sindicalização de trabalhadores despencaram nos países europeus. Em Reino Unido e Alemanha, por exemplo, caíram de 32% e 44% para 29% e 23% respectivamente. Na União Europeia (UE), o índice caiu de 37,8% para 26,3% do total de trabalhadores. Isso reduziu drasticamente o poder de barganha dos sindicatos.
A perda de adeptos nas últimas décadas reflete mudanças profundas na sociedade e na economia europeias. No bloco oriental, o esvaziamento maciço de sindicatos foi uma forma de protesto de trabalhadores depois dos tempos de união compulsória sob o comunismo. Nos países ocidentais, houve a transição de um modelo econômico calcado na indústria de base para uma economia de serviços. Essas mudanças foram acentuadas pela globalização e pelos movimentos migratórios.
¿ Pode-se falar numa oportunidade de mobilização num momento em que governos europeus estão às voltas com medidas impopulares de cortes de gastos, mas os movimentos sindicais europeus precisam também refletir. Na Espanha, por exemplo, há divisões entre centrais de trabalhadores, o que causa enfraquecimento ¿ analisa Gregor Call, diretor do think tank britânico Weru, especializado em estudos de relações industriais.
Desafio é obter apoio popular. Na Grécia, greves foram ineficazes
Para Call, no confronto com os governos, os sindicatos deveriam buscar a possibilidade de diálogo como forma de limitar os ajustes propostos nos pacotes de austeridade. Especialmente em contextos como o britânico, diz ele, já que no Reino Unido a lei limitou os poderes dos sindicatos após uma onda de greves que paralisou o país no fim dos anos 70 e início dos 80:
¿ Tudo passa pela luta pelo apoio público. Caso contrário, chega-se a uma situação como a da Grécia. Mais de metade das greves gerais da Europa, na última década, ocorreram por lá, mas ainda assim não se obteve resultados concretos. Na Espanha, houve pesquisas falando em 72% de desaprovação popular à greve recente.
Para uma corrente de acadêmicos e sindicalistas, a recuperação da influência dos sindicatos depende de uma reorganização estrutural, em que centrais nacionais dariam espaço a movimentos continentais.
¿ Há uma crise de identidade. Os movimentos sindicais precisam decidir se continuarão exclusivamente voltados para questões internas ¿ diz o historiador Charles Powell, da Universidade San Pablo, de Madri.
Call destaca que não se pode subestimar os sindicatos:
¿ Ainda que menores hoje do que no passado, os sindicatos são as maiores organizações da sociedade civil na Europa.