Título: Serra diz que cabe a igrejas decidir sobre casamento gay
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 15/10/2010, O País, p. 4

Candidato tucano, porém, afirma que homossexuais têm direito à união civil

SÃO PAULO. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem ser a favor da união civil de homossexuais, mas, no que se refere ao casamento gay, cabe às igrejas, afirmou, terem sua posição. Perguntado sobre a decisão de Dilma Rousseff (PT) - que deve assinar uma carta se comprometendo a não enviar ao Congresso proposta de lei que trate do assunto -, disse que a adversária "tem lá os problemas dela".

- Acho que a questão do casamento propriamente dita está ligada às Igrejas. Agora, a união em termos de direitos civis já existe, inclusive na prática, pelo Judiciário. Sou a favor, para efeito de direito. Outra coisa é o casamento, que tem o componente religioso das Igrejas, e aí cada Igreja define sua posição - disse Serra, após participar de um encontro com representantes de ONGs de combate à Aids, em São Paulo.

Minutos após defender o uso da camisinha para prevenir a doença, Serra foi indagado sobre a posição da Igreja, que rejeita contraceptivos. O tucano defendera o uso da camisinha, masculina e feminina, como forma de prevenir o contágio pelo vírus da Aids. Segundo ele, a Igreja nunca fez campanha contra o uso de camisinha "quando era ministro da Saúde".

- No Ministério da Saúde fizemos uma política de difusão de mecanismos dos preservativos e tudo mais. A Igreja nunca colocou obstáculos. Colocou sua posição, mas nunca fez campanha propriamente contra isso - disse Serra, que ao deixar o evento bateu a cabeça no batente do elevador; assessores providenciaram gelo, e o tucano foi para Belo Horizonte reclamando do galo na cabeça.

No evento, Serra disse que não faria "alarmismo" sobre problemas no programa de combate à Aids, mas afirmou que a campanha de combate à doença começa a "derrapar" por falta de medicamentos. Segundo ele, anualmente, 20 mil pessoas a mais buscam remédios retrovirais para lutar contra a Aids.

Serra assinou uma carta-compromisso com os seguintes tópicos: compra, distribuição e acesso a medicamentos em todo o país; adoção de políticas e ações para diminuir o número de mortos por HIV; investimentos na indústria nacional; emissão de licenças compulsórias dos antirretrovirais sobre patentes; e fortalecimento do SUS para pacientes dessa natureza.

- O problema da Aids não está extinto. Só de retroviral são mais de 20 mil procurando esse medicamento por ano - disse.

"Brasil não tem política de medicamentos", diz Serra

Serra criticou a falta de dois medicamentos que integram o coquetel antirretroviral:

- A campanha começou a derrapar por falta de medicamentos. Hoje, faltam no mercado Abacavir e Lamivudina, um para o estágio inicial e o outro, para o estágio avançado da doença. Tudo por falta de apuro e cuidado do governo com essa questão - disse, reclamando ainda do crescimento da dependência da importação desse tipo de medicamento:

- O Brasil não tem política de medicamentos. Não é só para Aids, mas para todo o tipo de doença. O alívio é que é fácil fazer isso (recuperar a política).