Título: Guerra já fala em transição PT-PSDB
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 15/10/2010, O País, p. 14

Presidente do partido tucano diz não acreditar em passagem de governo "democrática" e ataca candidata petista

SÃO PAULO. O comando de campanha do PSDB já fala em transição de governo, numa demonstração de que o aumento das intenções de votos detectado pelas pesquisas a favor de José Serra criou, em ninho tucano, o mesmo clima que eles tanto criticavam na candidatura de Dilma Rousseff no primeiro turno. Em entrevista coletiva no comitê oficial, ontem, o presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra, chegou a dizer que o PT não está disposto a entregar o governo.

- Tenho certeza de que não vão fazer uma transição democrática. Nada parecido com o que fez Fernando Henrique Cardoso. Eles (petistas) não estão dispostos a entregar o governo - disse Guerra, alimentando a animação tucana com a tese de que "muita gente enxerga em Serra a chance de vencer".

Indagado se não havia na declaração um tom indisfarçável de "salto alto", o dirigente retrucou:

- O que estamos fazendo é trabalhar para que essa convicção de vitória dos nossos adversários se quebre - disse ele.

Na entrevista, Guerra ainda saiu para o ataque contra o PT, o governo federal e a campanha de Dilma Rousseff em diferentes temas. Disse que os adversários adotaram tom mais assertivo no segundo turno porque estariam reconhecendo o esvaziamento das intenções de voto no PT.

- Se ela (Dilma) estivesse tranquila, não teria mudado orientação e atitude na campanha - disse ele, com duras críticas também ao uso da Petrobras na campanha eleitoral.

- Esse pessoal tem uma conspiração contra nós. Eles usam serviços e instituições públicas para nos atacar. Mas não nos ameaçam porque não vai dar certo - disse Guerra, sem citar recentes ataques feitos por Dilma de que o empresário Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, teria fugido com R$4 milhões da campanha de Serra.

À frente da artilharia tucana, o dirigente também aproveitou para criticar a carta que deve ser assinada por Dilma, em que a descriminalização do aborto e a união civil entre homossexuais será reprovada.

- Nunca no Brasil ninguém precisou escrever carta a setores religiosos. Estão escrevendo isso porque estão perdidos. Isso é ridículo - disse ele.

Sobre declaração do presidente Lula, de que Deus se vingou dos adversários que votaram contra a CPMF, Guerra disparou:

- Ele (Lula) se considera um Deus, se não Ele próprio - disse.

Fontes ligadas ao caixa de campanha do PSDB negaram ontem que os tucanos fecharam o primeiro turno no vermelho. Segundo interlocutores, dos R$120 milhões previstos para a primeira etapa eleitoral, cerca de R$90 milhões foram usados. Segundo a oposição, R$62 milhões haviam sido depositados na conta da campanha, e outros R$20 milhões na conta do partido, durante a pré-campanha.