Título: Relatórios sobre Petrobras na mira da CVM
Autor: Carneiro, Lucianne; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 15/10/2010, Economia, p. 29

Sem citar caso específico da companhia, autarquia informa que o trabalho de analistas é acompanhado

RIO e SÃO PAULO. Relatórios divulgados por instituições financeiras que participaram da capitalização da Petrobras - e que contribuíram para a queda das ações na semana passada - podem ser investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Sem citar a oferta da companhia - já que a autarquia não comenta casos específicos -, a CVM informou que analisa todos os casos que envolvam a participação de analistas.

Após o encerramento da oferta, Itaú Corretora e Morgan Stanley - que participaram como coordenadores da megaoferta -, além do Barclays, divulgaram na semana passada análises sobre a companhia com alguns aspectos negativos. No relatório do Itaú, a recomendação para a ação foi rebaixada de "desempenho acima da média do mercado" para "em linha com o mercado". Já o Morgan Stanley reduziu o preço-alvo das ações, mas manteve a recomendação de desempenho acima da média do mercado.

Influenciadas pelos relatórios, as ações da Petrobras chegaram a cair mais de 5% durante o pregão de 6 e 7 de outubro. No dia 6, Petrobras ON (ordinária, com voto) fechou com queda de 3,98% e a PN (preferencial, sem voto) recuou 4,15%. No dia seguinte, a queda foi de 2,98% e 2,17%, respectivamente.

"Todo e qualquer procedimento que envolva a participação de analistas de um modo geral é acompanhado pela Superintendência de Relações com Investidores Institucionais da CVM", apontou a autarquia, ao ser questionada.

O objetivo, segundo a CVM, é verificar se há qualquer infração à instrução 483, que regula a atividade do analista.

Cautela evitou relatórios durante oferta

O questionamento de alguns analistas é que as instituições aguardaram o fim da operação para divulgar relatórios condenando aspectos da capitalização. Muitos executivos alegam que a legislação não é clara e temiam que qualquer divulgação fizesse com que as instituições fossem eliminadas da operação.

Questionada, a CVM informou que as áreas de pesquisa segregadas de instituições que participam de ofertas podem divulgar relatórios de análise durante o processo, desde que sejam apresentados à CVM. A regra, segundo a autarquia, vale para todas as ofertas.

A Itaú Corretora informou que seguiu práticas correntes de mercado e preza pela independência de seus analistas.

- A oferta da Petrobras foi única. A ordem dentro dos bancos era para que ninguém escrevesse nada para ter risco zero de anular a operação - disse uma advogada especializada em mercado de capitais, que pediu para não ser identificada.

Ontem, compilação feita pela consultoria Economatica mostrou que, entre 340 papéis, a ação ON da Petrobras foi a única que não conseguiu ganhar do Ibovespa em nenhuma ocasião nos últimos 12 meses, até 13 de outubro. Já a ação PN bateu o Ibovespa apenas em novembro de 2009. Este mês, os papeis da Petrobras recuam 4,28% (ON) e 3,11% (PN), enquanto o Ibovespa avança 3,26%.