Título: Califórnia vota por legalização
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 19/10/2010, O Mundo, p. 30

Venda e taxação de maconha dividem EUA e México

UM CALIFORNIANO e sua plantação de maconha para fins terapêuticos

WASHINGTON. À medida que se aproxima o referendo sobre a legalização da maconha na Califórnia, crescem as reações de autoridades americanas e também dos vizinhos mexicanos. Em 2 de novembro, os californianos votarão a Proposta 19, que trata da legalização, regulamentação e taxação da venda da droga no estado. Se a proposta for legitimada, indivíduos acima de 21 anos poderão fazer uso ¿recreativo¿ de maconha, com um limite legal de posse de 30 gramas por pessoa e autorização do cultivo em uma área igual ou inferior a 2,3 metros quadrados. Desde 1996, o uso terapêutico da erva é permitido na Califórnia.

O procurador-geral dos EUA, Eric Holder, disse que o governo federal não vai tolerar a legalização estadual e fará de tudo para bloquear a medida. ¿O Departamento de Justiça se opõe firmemente à Proposta 19, que, se aprovada, complicará enormemente os esforços federais antidrogas, em detrimento dos nossos cidadãos¿, afirmou Holder em um comunicado.

No lado mexicano, o presidente Felipe Calderón também criticou a legalização, e advertiu que a liberação americana criará mais dificuldades no país:

-¿ Será muito difícil para um governo colocar na prisão um lavrador que planta maconha para vender aos californianos.

Os defensores da Proposta 19 alegam vantagens para a Califórnia e para o México. A legalização não só economizaria ao governo do Estado americano importantes recursos no combate ao tráfico, como geraria cerca de U$1,4 bilhão em novos impostos aos cofres públicos. Além disso, concentraria o uso da força policial no combate a crimes mais graves. Em relação ao México, seria um golpe para os cartéis das drogas. Um estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Rand, de Los Angeles, sustentou no entanto que a legalização só teria impacto nos negócios dos cartéis mexicanos se a maconha californiana, de baixo custo de produção, fosse contrabandeada dentro dos EUA. Caso contrário, a perda seria de apenas entre 2% e 4% na contabilidade dos traficantes mexicanos.