Título: França para hoje pela aposentadoria
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Fonte: O Globo, 19/10/2010, Economia, p. 26

Falta de combustível já afeta 2.500 postos. Em protestos, 290 estudantes são presos

ESTUDANTES PROTESTAM em frente ao Hôtel de Ville, no Centro de Paris

PARIS e RIO.

A França enfrenta hoje uma nova greve geral convocada pelos sindicatos em protesto contra a reforma do sistema previdenciário, que, entre outras medidas, eleva a idade mínima da aposentadoria de 60 para 62 anos. A votação do projeto no Senado foi adiada para quinta-feira, para a análise de 500 emendas. Mas o presidente Nicolas Sarkozy já avisou que não vai recuar porque a reforma é essencial. O país enfrentou ontem bloqueios e ¿operações escargot¿ de caminhoneiros, greve de ferroviários e manifestações de estudantes do nível médio ¿ que resultaram em 290 prisões por confrontos com a polícia.

¿ Esperamos ser ouvidos pelo governo. Sabemos que uma reforma é necessária, mas queremos um plano mais equilibrado ¿ afirmou Mohammed Touis, da central sindical CFDT.

O site do jornal ¿Le Figaro¿ estima que mais de 2.500 postos estejam sem combustível. De acordo com Alexandre de Benoist, delegado-geral da União dos Importadores Independentes de Petróleo (UIP), que administra cerca de 4.800 postos, entre mil e 1.500 estariam ¿quase ou totalmente a seco¿. Na rede Total, eram 650 de um total de 4 mil. Já os distribuidores independentes calculavam mil de 3.500 postos sem combustível.

Aeroportos devem sofrer atrasos e cancelamentos

A fim de monitorar os dados sobre problemas no fornecimento de combustíveis, o ministro do Interior, Brice Hortefeux, colocou em operação um Centro de Coordenação Interministerial de Crise (Cogic).

Com as 12 refinarias paradas e vários depósitos de combustível bloqueados, a França começou a recorrer a suas reservas emergenciais, que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), são suficientes para 98 dias.

A empresa Aeroportos de Paris (ADP) informou que alguns voos foram cancelados ou sofreram atrasos ontem em Roissy-Charles de Gaulle, mas não divulgou números. Segundo a Air France, quatro voos de longa distância pararam para abastecer antes de chegar à França, a fim de assegurar que tivessem combustível para voltar.

O maior problema nos aeroportos começa hoje. O sindicato Sud Aérien convocou uma greve geral para hoje e uma operação ¿aeroportos mortos¿ amanhã em Roissy, Orly e Toulouse. A Direção Geral da Aviação Civil (DGAC, que regula o setor) estima que o movimento em Orly caia à metade. Nos demais aeroportos, a redução prevista é de 30%.

TAM e Air France, as duas empresas com voos diretos entre França e Brasil, informaram ontem que não há previsão de cancelamentos. Já a Air France ressaltou que pode haver atrasos hoje, devido à greve geral.

Pesquisa: 71% da população apoiam os grevistas

Se hoje os sindicatos devem tomar as ruas, ontem foi a vez dos estudantes de nível médio. Segundo o governo, houve paralisações em 261 liceus, ou 6% dos 4.302 existentes no país. Mas o sindicato da categoria afirma que 950 escolas de nível médio estão mobilizadas, 600 das quais não funcionaram ontem.

Em Nanterre, nos arredores de Paris, houve confrontos violentos entre estudantes e policiais, e 290 adolescentes foram presos. Carros foram incendiados. Abrigos de ônibus e cabines telefônicas foram destruídos, e os detritos, usados contra os policiais, que usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha.

No Centro da capital as manifestações foram pacíficas. Em Bordeaux, 800 estudantes foram às ruas com slogans como ¿Sarko, sua reforma está podre¿.

Segundo pesquisa publicada ontem pelo jornal ¿Le Parisien¿, 71% dos franceses apoiam os grevistas.

COLABOROU Danielle Nogueira

oglobo.com.br/economia