Título: Pobre passou a ter telefone por renda
Autor: Vasconcellos, Fábio; Marqueiro, Paulo
Fonte: O Globo, 19/10/2010, O País, p. 10

Para Dilma, privatização não explica crescimento do consumo; em entrevista ao "JN", petista se compara a Indira Gandhi

Fábio Vasconcellos, Paulo Marqueiro e Rafael Galdo

Na estratégia de associar os tucanos à privatização de empresas públicas, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, classificou ontem de questionável a lógica de que hoje o pobre tem acesso à telefonia por causa da privatização. No debate da Band, há dez dias, o presidenciável tucano, José Serra, dissera que, sem as privatizações, o Brasil seria o ¿país do orelhão¿: ¿ O pobre passou a ter telefone porque passou a ter renda e não porque privatizaram. Essa lógica é um tanto quanto questionável (privatização e maior aumento do acesso à telefonia).

Não é porque é público ou privado que aumenta a quantidade e a capacidade de compra da população. O mundo hoje caminha para uma convergência de mídia e, portanto, a telefonia fixa, aquela que foi privatizada, não é mais uma questão de importância tecnológica como foi nos anos 80 ¿ disse Dilma, em entrevista num hotel, no Rio.

Dilma também ironizou a afirmação de Serra, que negou que David Zylbersztajn seja o seu assessor para assuntos de petróleo.

Segundo Dilma, ¿estamos hoje naquela fase de o bezerro estar estranhando a vaca, e viceversa, a vaca estranhando o bezerro¿.

A candidata do PT afirmou que o PSDB votou contra o modelo de partilha do pré-sal.

Em entrevista ao ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo, ontem, Dilma se comparou à exprimeira ministra da Índia Indira Gandhi, ao responder por que a eleição não foi decidida no primeiro turno: ¿ O eleitor queria uma oportunidade a mais para refletir e está cotejando as propostas.

Sou muito grata, porque tive 47 milhões de votos e acredito que eu seja a segunda mulher mais votada da História do planeta.

A primeira foi Indira Gandhi.

Ao ser questionada sobre a mudança de posição em relação ao aborto, Dilma disse ser contra, mas, ao mesmo tempo, afirmou que um presidente não pode ignorar o fato de que milhares de mulheres já fizeram aborto no país.

¿ Sou contra o aborto e não acredito que mulher alguma seja a favor. Quem recorre (ao aborto) é em situação limite. Mas o presidente não pode fingir que não existem milhares de mulheres, ou milhões, como publicou O GLOBO (que fazem aborto). A minha posição sempre foi: você não pode prender essas mulheres, trata-se de cuidar delas ¿ afirmou Dilma, ressaltando ser contra mudanças na legislação.

Em relação aos escândalos que levaram à queda da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito de Dilma, a candidata alegou que ¿erros acontecem em todos os governos¿: ¿ A nossa atitude foi investigar e punir. Não concordo com contratação de parentes e amigos.

Ninguém controla o governo inteiro. Meu adversário tem uma acusação gravíssima, o caso Paulo Vieira de Souza, que era diretor do departamento de estradas e cuidava de obras importantes.

Até agora não houve investigação e nem processo. Há uma diferença entre quem pune e quem acoberta e não pune.