Título: Na reta final, Michelle e Tea Party
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Fonte: O Globo, 19/10/2010, Opinião, p. 6
Aduas semanas das eleições de meio de mandato nos EUA (renovação da Câmara de Representantes, 1/3 do Senado e de 37 dos 50 governos estaduais), o que se discute é o tamanho da derrota democrata e, por extensão, da Casa Branca. Catastrófica, se os republicanos fizerem maioria nas duas casas do Congresso; relativamente catastrófica, se o fizerem em apenas uma; e menos mal, se o Partido Democrata continuar em maioria no Legislativo.
O presidente Barack Obama recrutou a popular primeira-dama, Michelle, para ajudá-lo no apoio aos candidatos democratas. A AFL-CIO, maior central sindical americana, convocou seus milhões de afiliados para redobrarem os esforços nesse sentido. Mas ainda parece pouco. O desencanto dos eleitores com a anemia econômica depois do quase colapso de 2008 fala mais alto. Pesquisa Associated Press-Knowledge Networks pôs em números o desânimo dos eleitores democratas e o relativo dinamismo dos republicanos. Somente a metade dos que votaram em Obama em 2008 diz que irá às urnas no dia 2 de novembro, contra dois terços dos que votaram no oponente, John McCain. Numa reversão das expectativas em relação a 2008, quando 63% dos que votaram em Obama acreditavam em mudança da forma de fazer política em Washington, apenas 36% ainda mantêm a crença.
Nessas eleições estarão em jogo as 435 cadeiras da Câmara de Representantes, das quais o Partido Democrata tem hoje 255, contra 178 dos republicanos (218 dão a maioria). Projeções do ¿New York Times¿ atribuem aos democratas, após o pleito, 203 cadeiras (entre as solidamente democratas e as com inclinação pelo partido); e aos republicanos 195 (segundo o mesmo critério). A disputa real é por 37 cadeiras ¿ teoricamente, 23 delas dão maioria aos republicanos.
No Senado, está em jogo um terço dos assentos. Hoje, os democratas têm 59, contra 41 dos republicanos. A projeção do NYT dá aos primeiros 49 cadeiras e, aos segundos, 43. Há oito em disputa. Se esses números se mantiverem, os republicanos terão de ganhar as oito para recuperar a maioria na Casa.
Existe um fator novo nessas eleições, com impacto ainda indefinido: o movimento ultraconservador Tea Party. Surgido dentro do Partido Republicano, ele capturou o voto de protesto contra o establishment político. Segundo o ¿New York Times¿, 33 candidatos do Tea Party concorrem à Câmara e oito têm chance de entrar no Senado. Para poder absorver o grupo, o Partido Republicano deverá dar uma guinada à direita, tornando ainda mais difícil a vida para Obama em seus dois últimos anos de mandato e potencialmente criando novos obstáculos à sua reeleição.
As somas envolvidas nas campanhas americanas são proporcionais à maior economia do mundo. Há uma onda sem precedentes de gastos de instituições e grupos que escapam a limites legais e com anonimato garantido, em geral em favor dos republicanos. Segundo o ¿Washington Post¿, eles estão destinando mais de US$150 milhões em apoio a seus candidatos. Embora em menor número, há organizações também em favor dos democratas, muitas ligadas à máquina sindical. O que mostra a grande dificuldade de fixar, em qualquer país, limites aos gastos de campanha.