Título: PF copia arquivos de computador de Erenice
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/10/2010, O País, p. 3
Polícia também acessou documentos de outros investigados por tráfico de influência
BRASÍLIA. A Polícia Federal (PF) fez na sexta-feira cópia dos arquivos dos computadores usados pela ex-ministra Erenice Guerra, pelo filho dela Israel Guerra e pelo exdiretor de Operações dos Correios Marco Antônio de Oliveira. Com a análise dos e-mails, a PF tentará aprofundar as investigações sobre suposto tráfico de influência na Casa Civil. A partir de um pedido da polícia, a juíza Poliana Martins Alves, da 12ª Vara Federal, autorizou também a prorrogação das investigações por 30 dias.
A PF fez ainda o espelhamento (a cópia dos arquivos) dos computadores usados por Vinícius Castro, ex-assessor de Erenice, e de Estevan Knezevic, servidor do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), órgão vinculado à Casa Civil. Castro e Knezevic são apontados como sócios de Israel na Capital Consultoria, empresa contratada para intermediar negócios entre empresas privadas e o governo. As denúncias sobre tráfico de influência já resultaram na demissão de Erenice, exbraço direito da candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT).
Ao todo, foram copiados pela PF arquivos de cinco computadores da Casa Civil, de um da Terracap e de um dos Correios. Até o início do escândalo, Israel dava expediente na Terracap, uma empresa do governo do Distrito Federal. Os computadores da Casa Civil estavam lacrados por ordem da sindicância interna do Palácio do Planalto. Na próxima etapa, a PF deverá pedir a quebra do sigilo telefônico de Erenice e dos demais investigados.
Com base nessas informações, a polícia decidirá ainda a data em que a ex-ministra será chamada para depor. A polícia pediu autorização para acessar os e-mails de Erenice, Israel, Castro e Knezevic na quarta-feira passada. O Ministério Público acrescentou ao pedido o nome de Oliveira.
O grupo de Israel é acusado de ajudar a Master Top Airlines (MTA), empresa de transporte aéreo de cargas, a renovar um contrato com os Correios. O grupo também é suspeito de tentar obter no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um financiamento para a EDRB, empresa de energia eólica.
Segundo o lobista Rubnei Quícoli, o projeto seria de R$ 9 bilhões. O BNDES diz que a proposta foi de R$ 2,25 bilhões. O projeto não foi aprovado pelo banco. A PF já interrogou 15 empresários, lobistas e servidores públicos.
As investigações têm como base, até o momento, o depoimento de Quícoli. Ao ser interrogado na polícia, ele reafirmou que tentou contratar a Capital Consultoria na tentativa de obter financiamento no BNDES para a EDRB. O lobista Fábio Baracat, um dos primeiros a denunciar Israel, teria minimizado as acusações, quando chamado a se explicar na PF. Israel, Castro e Knezevic também compareceram à polícia para depor, mas não quiseram responder às perguntas do delegado Hugo Uruguai.
Diante das dificuldades dessa primeira etapa, a polícia resolveu partir para medidas mais duras, como a quebra do sigilo dos e-mails e, depois, do sigilo telefônico. A PF e o Ministério Público não sabem se será possível concluir o inquérito antes das eleições. Para o Ministério Público, as investigações devem ser conduzidas de acordo com as necessidades do inquérito e não do calendário eleitoral.
¿ Não importa se Erenice vai depor antes ou depois das eleições.
O mais importante é que ela preste depoimento quando a polícia tiver informações suficientes para interrogá-la ¿ afirmou uma das autoridades policiais que estão à frente do caso.