Título: Os aposentados ficaram para trás
Autor: Marqueiro, Paulo
Fonte: O Globo, 20/10/2010, O País, p. 17

Em entrevista ao `JN¿, Serra diz que haverá recursos para mínimo de R$600 e reajuste de 10% na Previdência Social

Em entrevista ao ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo, ontem à noite, ao ser perguntado se promessas como salário mínimo de R$600, reajuste de 10% para os aposentados e décimo terceiro para o Bolsa Família não comprometeriam os gastos do governo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse que essas medidas custariam 1% do orçamento previsto:

¿ Os aposentados ficaram para trás, o salário é pouco e o Bolsa Família, muito pequeno. Eu calculei 1% do orçamento previsto porque a receita está subestimada. Tem também o corte de desperdício, o encolhimento de cargos de confiança, gente que não faz concurso, que está lá por apadrinhamento político. Com isso, vamos ser capazes de cobrir esse 1%.

Ao ser questionado por que essas medidas não teriam sido já tomadas, se fossem tão fáceis, Serra disse que elas poderiam ter sido adotadas se não houvesse desvio de dinheiro público:

¿ Eles têm outras prioridades. Dão subsídios a investimentos que não são tão rentáveis. Tem muito desvio de dinheiro.

Sobre o fato de a campanha no segundo turno ter sido dominada por temas religiosos e pelo aborto, Serra afirmou que sua campanha não explorou a questão em si, mas o fato de a adversária, Dilma Rousseff (PT), ter mudado de opinião:

¿ Não fomos nós que levantamos ou exploramos (a questão do aborto). A Dilma se manifestou a favor do aborto, deu entrevista. O PT, no fim do ano passado, considerou transgressor quem se colocava contra o aborto. Eles puseram a questão no ar. Eu sempre manifestei que sou contra e nunca explorei o fato de que ela estaria errada por ser contra. Nunca passou pela minha cabeça transformar isso no centro da campanha. A questão é que uma hora ela diz uma coisa e outra hora diz outra.

Serra ataca PT por denúncias

Em relação a denúncias de que Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa (departamento de estradas de São Paulo), teria ficado com verba de sua campanha, Serra disse que as denúncias estão sendo feitas pelo PT para ocultar escândalos, como os do caso Erenice. Negou ainda que a frase dita por Paulo Vieira numa entrevista ¿ ¿Não se abandona um líder ferido na estrada¿ ¿ fosse uma ameaça.

¿ O essencial é que não houve desvio na minha campanha. Eu saberia e seria a vítima. E não se trata de dinheiro do governo. Eu desmenti isso há muito tempo. E o assunto volta posto, inclusive pelo PT, porque o que eles gostam de fazer é vir com ataques, às vezes meio incompreensíveis, para nivelar todo mundo, como se os escândalos da Casa Civil, como se os escândalos desse senhor Cardeal agora na Eletrobras, como se tudo isso pudesse ser também reproduzido, o que não aconteceu do outro lado. Eu não tenho nenhum chefe da Casa Civil que ficou do meu lado e aprontou tudo que a Erenice aprontou.

Quando questionado se o fato de o governo Serra ter contratado uma das filhas de Paulo Vieira de Souza não configuraria nepotismo, o candidato negou:

¿ Essa menina foi contratada, eu nem conhecia, não foi diretamente por mim, para trabalhar no Cerimonial. Tinha um currículo, sabia dois idiomas, sempre trabalhou corretamente. Inclusive, eu só vi que era filha de um diretor de uma empresa muito tempo depois. Ela não está em nenhum cargo, nunca teve nenhuma acusação, nem nenhum cargo que tome decisões, faça lobby, pegue dinheiro.