Título: Caso Eletrobras: banco alemão nega demissão
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 20/10/2010, O País, p. 15

KfW, que processa subsidiária da estatal, desmente corte por empréstimo irregular

BERLIM. O banco alemão Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW) negou ontem ter demitido um funcionário por irregularidades na concessão de dois empréstimos, em 2005 e em 2006, de C157 milhões, a duas empresas privadas de energia do Sul do Brasil. Ao contrário do que disse a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, no debate da Rede TV!, o portavoz do banco, Axel Breitbach, afirmou que não houve motivo para demissão.

Dilma fez a afirmação ao comentar a acusação de envolvimento do diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, seu homem de confiança, em ações que o banco move contra a Companhia de Geração de Energia Térmica (CGTEE), subsidiária da estatal federal de energia, por ter dado garantias para os empréstimos às duas empresas privadas, o que é proibido pela Lei da Responsabilidade Fiscal.

¿ Os contratos de empréstimos foram corretos e, como garantia, tínhamos a CGTEE, que tinha credibilidade como fiadora por ser estatal ¿ afirmou Breitbach, para em seguida dizer que o KfW não tinha informação de que uma estatal brasileira não podia oferecer garantias.

¿Não queremos influenciar na campanha eleitoral¿ O banco mandou fazer uma avaliação jurídica e chegou à conclusão de que a fiança tinha credibilidade, liberando o crédito, segundo Breitbach, que representa o setor de financiamento de exportações do banco. Ele não quis comentar o envolvimento de Valter Cardeal e o fato de as ações estarem sendo usadas como denúncia nas eleições. Breitbach também não quis confirmar se Dilma havia sido informada ou não do empréstimo ¿ Nós não queremos influenciar na campanha eleitoral brasileira ¿ afirmou.

Os empréstimos foram concedidos às empresas Winimport e Hamburo. Enquanto com a segunda empresa, o pagamento da dívida ainda é negociado, o débito da Winimport foi cobrado da CGTEE, que recusou-se a pagar.

Os equipamentos fornecidos para a Winimport, que motivou o empréstimo, são três turbinas de produção de energia a partir do vapor da biomassa, em Imbituva, Guarapuava e Inácio Martine, no Paraná.

O KfW move duas ações contra a CGTEE. Na primeira, na 10aVara Cível da Justiça de Porto Alegre, tem em vista ¿restabelecer a reputação¿ do banco, que teria sido danificada por declarações feitas ¿por representantes da estatal brasileira¿. Na segunda, o banco exige o cumprimento da dívida.

Segundo o porta-voz, nos últimos anos, houve muitos problemas com empréstimos, especialmente depois da crise financeira mundial a partir de 2008. Depois de negócios sem sucesso na Irlanda por sua filial, o banco IKB, o KfW teve prejuízos de cerca de C 5 bilhões. Por isso, a política com os devedores tornou-se mais rigorosa. O KfW tem negócios no Brasil há 60 anos. A instituição financiou projetos de infraestrutura e a aquisição de parte do equipamento para as usinas nucleares de Angra 2 e Angra 3.