Título: Promotor denuncia tesoureiro do PT
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 20/10/2010, O País, p. 15

Vaccari Neto é acusado de lavagem de dinheiro na gestão da Bancoop; petistas acusam promotor de ação política SÃO PAULO. O Ministério Público de São Paulo denunciou ontem à Justiça o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, em um esquema de desvios e prejuízos financeiros que deixou um rombo de R$ 170 milhões na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop).

O petista também é alvo de pedido de quebra de sigilo bancário e indisponibilidade de bens.

Segundo o promotor José Carlos Blat, há indícios de que cerca de R$ 180 mil foram repassados ao PT: R$ 60 mil oficialmente, mas por uma empresa laranja, e R$ 120 mil entregues em dinheiro para um suposto caixa dois. A investigação também revelou que Vaccari endossou um cheque de R$ 50 mil da cooperativa para pagar diárias relativas ao Grande Prêmio de Fórmula 1 de 2005

¿É um balcão de negócios criminosos¿, diz promotor A denúncia foi protocolada na 5aVara Criminal minutos antes de Blat depor na CPI da Bancoop, na Assembleia Legislativa de São Paulo. A sess ã o f o i t u m u l t u a d a p e l o s aplausos de cooperados lesados e protestos de deputados petistas, que acusaram o promotor de ter motivação eleitoral e fazer denúncias com ¿tintas tucanas¿, sem provas.

¿ A Bancoop não é cooperativa.

Ela pode ser tudo, menos uma cooperativa. É um verdadeiro balcão de negócios criminosos. Vaccari, Ana Érnica e outros diretores aprovaram as contas sabedores de todas as falcatruas e desvios e, obviamente, impondo aos cooperados um sofrimento terrível ¿ disse Blat.

Os deputados estaduais do PT Antonio Mentor, Vicente Cândido e Vanderlei Siraque acusaram Blat de tentar influir no segundo turno. Vaccari se afastou da presidência da Bancoop em fevereiro, para assumir a Secretaria de Finanças do PT. Ele não integra o comitê financeiro da campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, mas parte das doações são feitas diretamente ao partido. Para o promotor, houve apenas uma coincidência com o calendário eleitoral, porque o laudo apontando irregularidades, feito pelo Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro do Ministério Público Estadual, foi finalizado anteontem.

¿ Eu já tinha os elementos necessários. A partir do momento que me senti seguro da minha convicção, apresentei a denúncia. O momento político não me interessa ¿ disse.

Foram denunciados, pelos mesmos crimes de Vaccari, Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga. A advogada Leticya Achur Antonio foi poupada só da acusação de lavagem de dinheiro.

Por formação de quadrilha, foram denunciados também Henir Rodrigues de Oliveira, mulher de Tomás, e Helena da Conceição Pereira Lage, secretária da Bancoop que herdou a empreiteira laranja usada no esquema, segundo o promotor.

Blat confirmou denúncia que O GLOBO publicou em março, de desvio de dinheiro para o PT, descoberto na contabilidade interna da empresa laranja Mizu, em que uma planilha apontou o destinação de cheques para o partido. Os extratos bancários da Bancoop demonstraram que os cheques foram sacados em dinheiro. Blat estima o valor em R$ 120 mil. Além disso, há uma doação oficial de R$ 60 mil foi feita em 2004 por outra empresa laranja, a construtora Germany, ao PT. A transação é legal, mas Blat questiona a origem dos recursos.

¿ Verificamos que dois cheques, no total de R$ 100 mil, foram pagos ao Hotel Grand Hyatt.

O primeiro foi endossado por (Luiz) Malheiro (ex-diretor da Bancoop, já morto) em 2004 e o segundo por Vaccari em 2005.

Segundo o hotel, o pagamento foi referente a estadias para o Grande Prêmio de Fórmula 1, em 2004 e 2005 ¿ disse.

Blat afirmou que o esquema teve seu pico de movimentação em 2004, quando foram feitos lançamentos suspeitos de mais de R$ 40 milhões. Os recursos eram movimentados por meio de cheques nominais à própria Bancoop, ao banco Bradesco, onde estavam as contas, ou a terceiros.

¿ Parte era pagamento e parte era saque no caixa que era entregue na mão dos diretores ¿ contou o promotor, que estimou um rombo de R$ 170 milhões: R$ 100 milhões em prejuízos e R$ 70 milhões em desvios.

Os acusados têm dez dias para protocolar uma defesa prévia e, depois disso, o juiz da Vara Criminal irá decidir se aceita a denúncia.

¿ São acusações fantasiosas.

Repetem o que o promotor fala há anos e só agora, a dez dias das eleições, virou denúncia.

A Bancoop jamais fez contribuição financeira a qualquer partido. O promotor jamais ouviu os dirigentes da cooperativa ¿ disse o advogado da Bancoop, Pedro Dallari.

Vaccari também iria depor ontem, mas pediu para remarcar sua audiência.