Título: Obama cobiça as mulheres
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 22/10/2010, O Mundo, p. 36

Presidente tenta atrair voto feminino e socorrer candidatas

O PRESIDENTE americano conversa com um grupo de mulheres sobre a economia num evento democrata, durante a sua visita a Seattle: ajuda a candidata

Amulher mais popular do círculo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a primeira-dama Michelle Obama, não concorre a cargo eletivo algum. A antes incensada presidente da Câmara, Nancy Pelosi, vitoriosa na aprovação das reformas da saúde e da regulação financeira, tem sido rejeitada nos palanques eleitorais e corre o risco de perder seu posto para os republicanos. Sem contar com uma amazona de comício, Obama decidiu sair atrás do cobiçado voto feminino e socorrer as candidatas democratas em dificuldades em seus respectivos estados.

Em sua viagem à Costa Oeste americana, o presidente visa a impulsionar duas cruciais campanhas femininas na tentativa de manter a maioria do governo no Senado. Em Seattle, a senadora de três mandatos Patty Murray pode perder a reeleição contra seu adversário republicano, Dino Rossi. Na Califórnia, igualmente eleita três vezes para o Senado, a democrata Barbara Boxer tem sido desafiada nas pesquisas de opinião por uma outra mulher, a ex-executiva da Hewlett-Packard Carly Fiorina. No mesmo estado, os republicanos apoiam ainda a campanha da milionária Meg Whitman, ex-executiva do eBay, para o governo da Califórnia.

Como parte da estratégia eleitoral, a conselheira da Casa Branca Valerie Jarret sublinhou o relatório intitulado Segurança Econômica e de Empregos para Mulheres Americanas, elaborado pelo Conselho Econômico Nacional. ¿Reforçar as oportunidades para as mulheres na nossa economia é um elemento chave na agenda econômica do presidente¿, disse Jarret, num comunicado.

Desde 1992, as mulheres votam mais nos candidatos democratas. Naquele ano ainda ¿ considerado em análises políticas como ¿o ano das mulheres¿ ¿, a representação feminina no Congresso pulou de 6% para 10%. Nos últimos 18 anos, a porcentagem aumentou para 17%. Nas eleições presidenciais de 2008, Obama recebeu 57% dos votos femininos, contra 43% para o republicano John McCain, derrotado nas urnas. Para 2010, a proporção estimada de prováveis eleitores masculinos e femininos é de, respectivamente, 52% e 48%.

Para a cientista política Allyson Lowe, especialista nas relações das mulheres com a política, as diferentes atitudes políticas dos dois gêneros explicam a preferência feminina pelos democratas.

¿ Em geral, as mulheres são mais favoráveis do que os homens a um papel maior do Estado na sociedade; são mais contrárias a intervenções militares no exterior; mais a favor de programas de saúde e de auxílio humano; e mais a favor do controle de armas. Se pensarmos nisso, não é uma surpresa essa discussão pública sobre a tendência mais masculina do que feminina do movimento Tea Party, de Sarah Palin ¿ avaliou a cientista política.

Segundo Lowe, não são os apelos de programas partidários que poderão fazer bascular o voto feminino no próximo pleito legislativo. O fator determinante, na sua opinião, é o entusiasmo do eleitor para sair ou não de casa para depositar seu voto na urna em 2 de novembro. E, neste caso, as mulheres seriam as mais atingidas.

¿ Historicamente, as mulheres têm favorecido os democratas. O que pode mudar este ano é saber quantas delas irão votar. Os republicanos estão bem mais animados com esta eleição. E esta é uma diferença importante entre homens e mulheres. Elas se sentem mais desesperançadas do que os homens, e isso pode desmobilizá-las a votar. Por isso Obama foi à Costa Oeste e tem viajado pelo país dizendo que ¿não se pode desistir¿, tentando injetar ânimo no eleitorado ¿ observou.

Ontem ¿ dia em que alcançou seu menor índice de aprovação, 44,7%, na pesquisa do Instituto Gallup ¿, Obama fez um mea culpa em seu discurso em Seattle:

¿ Devíamos agir muito rápido. Estávamos em uma tal situação de emergência que era muito difícil para nós dedicar bastante tempo a dar voltas olímpicas e fazer propaganda de nossas ações, porque devíamos avançar ao estágio seguinte. Assumo parte da responsabilidade por esta situação ¿ disse o presidente americano.