Título: Desemprego cai para 6,2%, o menor desde 2002
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 22/10/2010, Economia, p. 31
Rendimento chega a R$1.499, alta de 6,2% frente a setembro de 2009. Especialistas veem risco de inflação
Ainda que o Brasil some quase 1,5 milhão de desempregados em seis regiões metropolitanas, a taxa de desocupação do país chegou a 6,2% em setembro - a menor já apurada pelo IBGE desde 2002, quando teve início a atual série histórica da pesquisa de emprego. São 22,3 milhões de ocupados, que receberam mês passado rendimento médio de R$1.499 - recorde da série iniciada em 2002, com alta de 6,2% frente a setembro de 2009 e de 1,3% sobre agosto de 2010. Apesar dos números positivos, especialistas afirmam que os resultados corroboram um cenário de economia aquecida que pode gerar inflação. Mesmo porque, continuam, a expectativa é de um nível de desemprego menor nos próximos meses.
- O país vem criando postos de forma continuada e sustentável. Não só deixamos a crise como atingimos um patamar de emprego mais elevado do que antes da crise - disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, citando que a população dos ocupados aumentou 24% sobre setembro de 2002. - Já a dos desocupados reduziu 37%.
Taxa de desemprego pode chegar a 5% em dezembro
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a geração de empregos indica uma economia aquecida, que encerrará 2010 acima do seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) potencial - ritmo no qual o país cresce sem pressionar a inflação - estimado em 5%.
- A atividade econômica está demandando trabalho. Tanto que o país está mudando o padrão estrutural de sua taxa de desemprego. Não acredito, por exemplo, numa taxa acima de 7% nos próximos meses - disse Velho, acrescentando que dezembro pode trazer uma taxa em torno de 5%.
Mesmo com os avanços, é o jovem que continua a sofrer mais com o desemprego.
- O jovem, sem qualificação e experiência, amarga uma taxa de 14,1%. Porém, essa taxa, que já chegou a 20%, caiu - completou Azeredo.
Com mais gente trabalhando e com a renda em alta, também cresceu o bolo da massa de rendimentos do trabalhador (soma dos ganhos de todos os ocupados), para R$33,8 bilhões em setembro - alta de 2,1% no mês e de 10,1% sobre setembro de 2009. Um valor que deve ser ampliado dado que várias categorias de profissionais vêm obtendo reajustes salariais acima da inflação neste semestre.
- O avanço do rendimento tem uma importância para a economia brasileira, já que alimenta o mercado interno - disse Roberto Gonzalez, da Coordenação de Trabalho e Renda do Ipea.
O economista da corretora Prosper pondera, no entanto, sobre os riscos da inflação:
- A renda maior pressiona a economia, que gera inflação. A começar nos alimentos, produto de baixo valor agregado que já sofre com o aumento da demanda. O Banco Central poderá ter que subir a taxa de juros já no primeiro trimestre de 2011 - comentou Velho, que aponta para o problema de falta de mão de obra qualificada. - Há estrangeiros em vários setores.
Na avaliação do professor de economia do FGV Management Robson Gonçalves, a pesquisa do IBGE dá indícios de que o país chegou muito perto do mínimo de desemprego tolerado pelo mercado de trabalho. Para Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do ABC Brasil, o país se aproxima da taxa de desemprego estrutural, quando a oferta de trabalho fica limitada por fatores sociais, demográficos e educacionais e, com isso, o ajuste tem de ser feito cada vez mais via salário.
Mercado de trabalho mais formal: 46,4% têm carteira
Os dados do IBGE mostram que o mercado de trabalho está mais formal. Do total dos ocupados, 46,4% têm carteira assinada, ante 46,2% em agosto e 44,2% em setembro de 2009. De um mês para o outro, foram cerca de 100 mil postos formais criados, contra 24 mil sem carteira assinada no setor privado.
- Aumento da formalidade não significa, necessariamente, qualidade no mundo do trabalho. Por mais que muitos brasileiros passem a ter acesso a direitos mínimos do trabalhador e Previdência, ainda há muita precariedade, com problemas em saúde e segurança. Daí a rotatividade no mercado de trabalho - afirmou Gonzalez, ressaltando que o país ainda está distante do pleno emprego. - O mercado de trabalho ainda é muito injusto com as mulheres.