Título: EUA conseguem retardar alistamento de gays
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Fonte: O Globo, 21/10/2010, O Mundo, p. 32

Apesar de favorável à medida, governo alega não ter condições de colocá-la em prática, como determinou juíza

EX-SOLDADO Omar Lopez, expulso das Forças Armadas por ser gay: nova tentativa de alistamento após decisão de juíza

SÃO FRANCISCO, EUA. O governo americano conseguiu ontem, com um recurso de emergência numa corte da Califórnia, manter o veto ao alistamento de gays e lésbicas assumidos nas Forças Armadas dos EUA, conhecido como ¿Don't ask, don't Tell¿ (Não pergunte, não conte). A medida, que esteve em vigor no país nos últimos 17 anos, promovendo expulsões de militares que se assumissem homossexuais, havia sido derrubada temporariamente por Virginia Phillips, uma juíza da Califórnia, no último dia 12.

O governo do presidente Barack Obama, que já se declarou favorável à supressão da antiga política e prometeu extingui-la ainda sob seu mandato, tenta agora restaurá-la para ganhar tempo, alegando que as Forças Armadas ainda não estão preparadas para adotar a mudança. A solicitação ocorreu um dia depois do anúncio de que o Pentágono começou a aceitar recrutas gays por decisão judicial.

O recurso emergencial foi apresentado pelo governo no Tribunal de Apelações de São Francisco. A juíza se negara no início da semana a aceitar o pedido do governo.

Polêmica pode diminuir apoio gay a democratas

Ao apresentar o recurso, o governo alegou que a decisão de Virginia ¿pode causar danos imediatos às Forças Armadas e seus esforços de preparação para implementar a ordem de revogação do estatuto¿, e afirmou que a supressão da medida neste momento representaria um problema para o setor militar. Além disso, Obama já manifestou que não gosta de decisões temporárias como a da juíza, e quer que o Congresso lidere a reforma.

O Pentágono afirmara na véspera que a aceitação de homossexuais exigiria a resolução de diversas questões sobre benefícios a cônjuges, moradia e treinamento, em uma força já sobrecarregada devido às guerra no Iraque e no Afeganistão. O órgão também alertou que militares gays que revelarem sua orientação sexual poderiam ser expulsos caso o governo conseguisse reverter a decisão da juíza. O debate chega em má hora para Obama e o Partido Democrata, em plena campanha para as eleições legislativas do dia 2 de novembro, que temem perder o apoio da comunidade gay nas urnas.

Enquanto a decisão da juíza prevaleceu, pelo menos três ex-integrantes das Forças Armadas dispensados por sua orientação sexual já deram início ao processo para serem realistados. Estima-se que cerca de 13 mil pessoas foram dispensadas devido à medida, desde 1993.

Em Nova York, um ex-soldado expulso das Forças Armadas em julho por assumir sua homossexualidade, tentou se realistar. Já para Will Rodriguez-Kennedy, outro ex-militar, a tentativa não foi bem-sucedida. Recrutadores de San Diego disseram a ele que não havia vagas para ex-fuzileiros navais.

¿ Vou ter que esperar até dezembro ou janeiro para saber se há novas vagas ¿ afirmou Rodriguez-Kennedy.

Omar Lopez, que serviu por quatro anos e meio na Marinha e foi dispensado em 2006 pelos mesmos motivos, tentou se alistar no dia seguinte à adoção da medida da juíza. Seu pedido foi rejeitado por funcionários que alegaram não ter recebido instruções para aceitar recrutas gays. Seu advogado enviou uma carta ao Departamento de Justiça.

Lopez, hoje estudante no Texas, diz estar contente que sua experiência possa ajudar a conquistar avanços para homossexuais nas Forças Armadas. O estudante também disse não temer ser rotulado ao retornar para o serviço militar.

¿ Acho que não voltaria como um homem gay ¿ explica ele. ¿ Voltaria como soldado.