Título: Nova regra para doações favorece republicanos
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 21/10/2010, O Mundo, p. 31

NOVA YORK. Uma enxurrada de dinheiro, principalmente para pagar propaganda política na TV, está inundando a reta final da campanha eleitoral para o Congresso e governos de estado nos EUA. Esta é a primeira eleição realizada sob novas regras que permitem doações anônimas sem limites, segundo decisão da Suprema Corte em janeiro deste ano, e os candidatos republicanos têm sido os maiores beneficiados.

Os efeitos são mais sentidos nos final da campanha, quando a batalha nos comerciais de TV fica mais acirrada. Diferentemente do Brasil, onde os tribunais eleitorais regulam o conteúdo da propaganda, concedendo direitos de resposta que desestimulam ataques diretos, nos EUA a propaganda negativa é a regra. A diferença nesta eleição é que corporações e indivíduos podem fazer doações em segredo, comprando o espaço publicitário na TV, sem precisar declarar a contribuição.

As doações passaram a jorrar nas últimas semanas: o mês de setembro foi o melhor para a arrecadação do Comitê Nacional Republicano desde 2006: US$17 milhões declarados. Mas, segundo analistas, a quantia é muito maior. Somente Karl Rove, ex-assessor de George W. Bush, teria articulado com três grupos conservadores US$150 milhões para candidatos republicanos nestas eleições.

O Comitê Nacional Democrata divulgou ter arrecadado US$11,1 milhões nos 13 primeiros dias de outubro, o que pode levá-lo também à sua melhor marca numa eleição do tipo. Em alguns lugares, o número de anúncios pagos na TV passou de 5.000 por semana, segundo levantamento da CNN.

O site Politico fechou levantamento sobre compra de espaço publicitário em 80 dos mais importantes distritos eleitorais, arrecadação de fundos e pesquisas de intenção de voto, concluindo que 99 cadeiras atualmente ocupadas por democratas na Câmara estão em risco nesta eleição. Os republicanos precisam ganhar 40 dessas 99 (além de manter as atuais) para assegurar maioria na Casa.

A vulnerabilidade dos democratas está relacionada à crise econômica e à crescente impopularidade do presidente Obama, mas sem dúvida aumentou com a maior disponibilidade de dinheiro nas mãos dos candidatos republicanos. Obama reclama das doações secretas, que classifica como ameaça à democracia, mas o presidente e sua equipe de campanha para a reeleição terão que enfrentar o desafio da nova estratégia. Recusar doações secretas poderá ser fatal. Segundo o ¿New York Times¿, doadores republicanos já marcaram reunião para janeiro de 2011, para iniciar a arrecadação para a campanha presidencial de 2012. (F.G)