Título: Por unanimidade, Banco Central mantém juros básicos em 10,75%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 21/10/2010, Economia, p. 26
Para analistas, taxa deve ficar neste patamar até os primeiros meses de 2011
BRASÍLIA e RIO. Em sua penúltima reunião no ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), com decisão unânime e amplamente esperada pelos agentes econômicos, manteve ontem a Selic em 10,75% ao ano. A taxa básica de juros do país está nesse patamar desde julho passado e deve continuar assim até, pelo menos, os primeiros meses de 2011, avaliam os especialistas. Isso apesar de sinais mais frequentes de que a inflação voltou a acelerar, com reflexos sobre o próximo ano, que é o alvo principal do BC neste momento. Com a decisão, o Brasil se mantém como o país com o maior juro real do mundo (5,3% ao ano acima da inflação).
- O Copom sinalizou que vai manter os juros parados por mais algum tempo - afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.
Para o BC, o momento inflacionário é benigno e tem citado o cenário internacional como "desinflacionário" por causa do baixo crescimento da atividade. Ontem, reforçou essa posição ao fazer um comunicado neutro, bastante conciso: "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a Taxa Selic em 10,75% ao ano, sem viés".
No encontro anterior, de setembro, quando foi interrompido o ciclo de aperto monetário que chegou em 2010 a dois pontos percentuais, o comitê fez uma análise mais detalhada, citando "processo de redução de riscos para o cenário inflacionário". Para alguns analistas, a pressão inflacionária vai se acentuar, levando o BC a retomar a política de aperto monetário em 2011.
- As condições de demanda mostram mais pressão. Daqui a pouco vamos ver as expectativas de inflação crescendo acima de 5% - afirmou o economista do banco Santander Cristiano Souza, para quem o BC voltará a elevar a Selic no primeiro trimestre, levando os juros a 13% anuais no fim de 2011.
O BC, porém, ainda não chancelou a demanda mais forte. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, a expansão da economia ficou estável em agosto, depois de crescer 0,14% em julho. O indicador fechou com 139,12 pontos, praticamente o mesmo patamar visto em julho (139,13 pontos). Sobre agosto de 2009, o IBC-Br mostra expansão de 6,43%, também abaixo dos 7,90% de julho.
O IBC-Br é um indicador antecedente do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Ao mostrar desaceleração da atividade econômica, diminui a pressão esperada sobre a inflação.
IPCA-15 registra alta de 0,62% em outubro
O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, lembra que já é esperada uma acomodação da atividade no terceiro trimestre, com expansão de apenas 0,6%. No segundo trimestre, ficou em 1,2%. Além disso, diz, a inflação voltou a acelerar em outubro.
Também ontem foi divulgado o IPCA-15, uma prévia do indicador usado como referência para o sistema de metas do governo, que apresentou alta de 0,62%, frente ao 0,31% de setembro.
- Além dos alimentos, o preço dos serviços está acima do sustentado. Acredito que o Banco Central interrompeu antes da hora o ciclo de aperto monetário - afirmou Gian Barbosa, analista da Tendências.
Pela pesquisa Focus do próprio BC, os economistas consultados têm elevado suas contas sobre o IPCA nas últimas semanas. Para este ano, elas já estão em 5,20% e, para 2011, em 4,99%. Em ambos os casos, afastando-se cada vez mais do centro da meta do governo, de 4,5%. O Copom se reúne novamente nos dias 7 e 8 de dezembro.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirmou que a manutenção da taxa foi conservadora e equivocada, pois não há risco de descontrole da inflação. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) lembrou que os juros altos acentuam o problema cambial.
COLABOROU: Rennan Setti