Título: França: sem trégua nos protestos
Autor:
Fonte: O Globo, 21/10/2010, Economia, p. 25

Senado vota hoje reforma. Sarkozy libera depósitos de combustível

¿ESCUTEM A cólera do povo¿, afirma o manifestante em frente ao Senado, em Paris

PARIS. Os protestos na França devem se intensificar hoje com a votação, logo mais à noite no Senado, do projeto de lei de reforma da aposentadoria, que eleva a idade mínima de 60 para 62 anos. Assim como ocorreu ontem, manifestantes devem cercar o Senado. Temem-se protestos violentos de estudantes, como os registrados em Nanterre, nos arredores de Paris, e na cidade de Lyon. O governo ordenou ontem o desbloqueio dos depósitos de combustíveis, a fim de combater a escassez, que já afeta cerca de cinco mil postos no país.

Os partidos de esquerda pediram o adiamento da votação, mas o governo permaneceu irredutível.

¿ Apelamos solenemente ao presidente da República: suspenda a votação, retome os trabalhos, aproveite este momento ¿ disse no Senado o presidente do Partido Socialista (PS), Jean-Pierre Bel.

Nicole Borvo Cohen-Seat, representante do bloco comunista, pediu que o governo retome as negociações com os sindicatos. Mas o ministro do Trabalho, Eric Woerth, garantiu que a votação ocorrerá como previsto.

Depois de o ministro de Ecologia e Energia, Jean-Louis Borloo, informar que, dos 12.311 postos do país, 3.190 estavam a seco e 1.700, sem pelo menos um tipo de combustível, o presidente Nicolas Sarkozy ordenou que a polícia liberasse todos os depósitos de combustível:

¿ Para milhões de cidadãos, o transporte é uma questão vital. Trata-se de uma liberdade fundamental.

Apesar das ações da polícia, os grevistas mantinham, à noite, bloqueios em três depósitos. Ninguém foi preso, mas os piqueteiros podem ser multados em até 2 mil. E, como a greve na EDF continua, o país está tendo de importar eletricidade.

Em Lyon, saques em lojas, carros incendiados e vaia a ministro

As manifestações estudantis, que vêm ocorrendo desde sábado, mais uma vez degeneraram em violência, atribuída a jovens oriundos da periferia. Lyon, que viveu cenas de guerra, com carros incendiados, vitrines quebradas e lojas saqueadas, mereceu a visita do ministro do Interior, Brice Hortefeux. O objetivo era discutir com o governo local a violência dos protestos, mas o prefeito da cidade, Gérard Collomb (PS), ao ver o número de jornalistas, retirou-se. Ele disse ao jornal ¿Le Monde¿ que havia ido a uma reunião de trabalho, não a um happening.

À tarde, Hortefeux foi às ruas ver os estragos e acabou vaiado por estudantes, que o chamaram de ¿racista¿ e ¿fascista¿. Três deles foram interpelados pela polícia. Segundo a imprensa local, cerca de 200 estudantes foram detidos nas manifestações de ontem. Desde o início dos protestos, o total chega a 1.423.

O presidente da Assembleia Nacional, Bernard Accoyer (do governista UMP) propôs ontem reduzir em 8% as aposentadorias dos deputados a partir de 2011, informou o ¿Monde¿. A medida será votada no próximo dia 27. A aposentadoria média de um deputado está hoje em 2.700 mensais (líquidos).