Título: Lobby na garupa
Autor: Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2009, Brasil, p. 10

Senadores votam pela regularização dos mototáxis, mas prefeitos correm para barrar o projeto no Planalto

No grupo de mototaxistas de Sobradinho II, Valdemir (de amarelo) chega a tirar R$ 1.100 por mês

Os mototaxistas do Gama em serviço: mais de 1.200 atuam informalmente em todo o DF

Uma guerra de bastidores que tomou conta de Brasília, com prefeitos e mototaxistas duelando nos corredores do Congresso, teve novo round ontem. O Senado aprovou projeto que legaliza a situação da categoria, alterando a proposta da Câmara que regularizava apenas os motoboys para permitir o transporte remunerado nas garupas. A decisão, no entanto, não encerra a briga. Derrotados na disputa, prefeitos de grandes cidades, contrários ao texto, tentarão convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a vetá-lo. Esbarram, porém, na pressão de milhares de motociclistas que já atuam no ramo e se organizaram o suficiente para conseguir a regulamentação do serviço em 3.500 cidades brasileiras.

Mais de meio milhão de mototaxistas carregam pessoas na garupa Brasil afora, por tarifas que variam entre R$ 2 e R$ 4. São 10 milhões de passageiros por dia. Como ainda não há regulamentação, o trabalho é informal. O serviço atrai, principalmente, clientes de baixa renda, que não têm condições de pagar um taxi convencional e veem nas motocicletas uma forma de escapar do precário transporte público. O lobby dos prefeitos pode, aparentemente, ter mais peso político. Mas como o tema interfere diretamente na rotina de 13 capitais, milhares de municípios e milhões de eleitores, o Senado evitou bater de frente com a legalização.

¿Tenho certeza de que os mototaxistas vão dar muito orgulho aos brasileiros¿, disse o relator da proposta, senador Expedito Júnior (PR-RO). Motivados por forte pressão dos taxistas e dos donos de empresas de ônibus, que temem uma queda nas receitas com a legalização do serviço de mototáxi, os prefeitos de grandes cidades tentarão convencer o presidente Lula com números. A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) vai basear o argumento em dados do Ministério da Saúde, segundo os quais 70% dos acidentes de trânsito com motos no país terminam em morte.

¿Funciona em cidades pequenas, mas é uma ilusão achar que vamos resolver os problemas do transporte de massa nos grandes centros com motos¿, disse o presidente da FNP, João Coser (PT), prefeito de Vitória.

Cem viagens Os representantes dos mototaxistas contestam e dizem que é preciso separar mototaxistas e motoboys. ¿O motoboy corre muito porque trabalha com tempo. O índice de acidentes com mototáxi é baixíssimo¿, afirmou Luiz Carlos Galvão, presidente do Sindicato dos Motociclistas Autônomos do Distrito Federal (Sindimototaxi).

Quem mora em Brasília já se acostumou com os motoboys. Mas o que muita gente não sabe é que, embora ilegal na cidade, o mototáxi ganha força a cada dia. Basta uma olhada rápida na lista telefônica para encontrar o serviço em Santa Maria, Gama, Sobradinho, São Sebastião e em outras cidades. O Distrito Federal já tem mais de 1.200 motociclistas no ramo, que atuam informalmente. ¿Tenho 12 motoqueiros comigo, que fazem mais de cem viagens por dia¿, afirma Sebastião Damasceno Rosa, proprietário de um ponto em Sobradinho II.

Valdemir Pereira, mototaxista desde 2002, chega a tirar R$ 1.100 mensais. ¿Tem dia que começo às 6h e só volto para casa no fim da noite¿, afirma.