Título: As vítimas britânicas da moda
Autor:
Fonte: O Globo, 23/10/2010, Economia, p. 28

Em 2010, a austeridade fiscal entrou na moda. Uso o termo com precisão: o repentino consenso entre ¿pessoas muito sérias¿ de que todos devem equilibrar os orçamentos já não foi baseado em qualquer análise cuidadosa. Foi como uma mania, algo que alguém diz acreditar porque é o que está sendo dito pela turma antenada.

E é uma mania que está desaparecendo, à medida que as evidências mostram que as lições do passado continuam relevantes, que tentar o equilíbrio fiscal em meio a alto desemprego e queda de inflação ainda é uma má ideia.

Houve argumentos de que o corte do déficit reduz o desemprego porque dá confiança a consumidores e empresários; mas vários estudos de dados históricos, inclusive do Fundo Monetário Internacional, revelam que essas premissas não têm pé na realidade.

Mas nenhuma mania passa sem deixar vítimas. Neste caso, as vítimas são o povo britânico, que teve o azar de ser representado por um governo que assumiu no auge da mania de austeridade e não vai admitir que está errado.

O Reino Unido sofre as consequências do estouro das bolhas imobiliária e da dívida.

Seu problema advém do papel de Londres como um centro financeiro internacional: o Reino Unido acabou confiando demais em lucros de negociações e especulações como motor de sua economia.

Essa confiança exagerada no sistema financeiro explica por que os britânicos, que chegaram à crise com uma dívida pública relativamente pequena, viram seu déficit fiscal saltar para 11% do PIB. E não há dúvida de que o Reino Unido vai ter que reequilibrar eventualmente sua contabilidade com corte de gastos e aumento de impostos. Eventualmente.

Agora, a austeridade fiscal vai deprimir ainda mais a economia, a não ser que seja equilibrada com o corte de juros.

Mas a taxa de juros britânica, como nos EUA, já está bastante baixa. A coisa a fazer, então, é esperar que a recuperação econômica esteja consolidada antes de se pegar na tesoura.

Mas o governo britânico parece determinado a ignorar a história. E, como sempre, quem não aprende com o passado se condena a repeti-lo.

PAUL KRUGMAN é colunista do ¿New York Times¿