Título: Presidente com nervos à flor da pele
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 23/10/2010, O País, p. 4
Para cientistas, porém, ambos os lados têm culpa por radicalização no 2º turno
O comportamento do presidente Lula nestas eleições tem chamado a atenção desde o primeiro turno, quando, em tom raivoso, convocou os eleitores a extirpar o DEM e fez fortes críticas à imprensa.
Cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), Fernando Abrúcio considera que a radicalização neste segundo turno é de responsabilidade de ambos os lados. Na avaliação do professor, o comportamento de Lula não é bom para a democracia brasileira, mas Abrúcio argumenta que o clima de hostilidade não pode ser atribuído apenas ao presidente.
O cientista afirma que, no primeiro turno, os discursos mais duros de Lula contra a imprensa e os partidos de oposição ocorreram em função de uma perspectiva do PT de que a eleição já estava ganha. Agora seria mais em respostas aos ataques da campanha feitos pelo PSDB. Na opinião de Fernando Abrúcio, esta é a campanha mais dura desde 1989:
- A maneira como o presidente tem se posicionado não é boa para a democracia. Mas isso é fruto de um ambiente político que vem se radicalizando desde o início do segundo turno. A campanha dos tucanos foi muito virulenta. A própria fala do Serra criticando os institutos de pesquisa, assim como a do presidente do PSDB, também não é apropriada. Ou seja, há uma radicalização de ambos os lados. Isso não adianta nada. Ninguém ganha votos com isso, e, após as eleições, quem vencer terá que sentar e conversar com a oposição.
Lúcio Rennó, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), faz análise semelhante. Mas, segundo ele, é preciso maior discussão sobre os limites da participação de presidentes em campanhas nacionais. Ele acrescenta que, em democracias mais consolidadas, os presidentes costumam ter uma participação mais discreta.
- Não colocaria toda a responsabilidade nas costas do presidente pelo clima de acirramento a que assistimos nesta campanha. É questionável o grau de participação dele, mas isso merece ser melhor analisado. Quanto à elevação do tom da campanha, o PT achava que os partidos de oposição teriam um comportamento semelhante ao adotado durante todo o governo Lula, ou seja, sem muita radicalização. Só que isso mudou, e, por isso, o tom da campanha subiu tanto.