Título: Dilma, preste atenção
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 23/10/2010, O País, p. 3

Que alma caridosa topa se candidatar a dar um toque de leve em Dilma? A chegar junto dela, com a voz mansa para não irritá-la, e dizer algo do tipo:

¿ Minha filha, tente ser mais original. Não precisa ficar repetindo por aí tudo o que Lula diz. Mostre que está sintonizada com ele, mas evite repetir as mesmas palavras que ele usa, os mesmos argumentos. Você não é boneca de ventríloquo.

Lula gosta de futebol. E de comparar fatos políticos com fatos esportivos.

Anteontem, ele quebrou a cara ao chamar de farsa a agressão sofrida no Rio de Janeiro por José Serra. Comparou Serra ao goleiro chileno Rojas, que simulou ter sido alvejado por um rojão durante partida no Maracanã.

À noite, em Caxias, o que disse Dilma?

¿ Hoje, vimos uma bolinha de papel virar uma arma maligna. Usam o mesmo expediente do Rojas, que se feriu com uma gilete para causar tumulto.

Não creio que Dilma seja incapaz de pensar por ela mesma. E de se expressar por ela mesma. Isso deve passar.

Para o bem ou para o mal, Lula só existe um. E está saindo de cena a contragosto.

O que disse Dilma ontem em Belo Horizonte?

Depois de se reunir com 300 prefeitos e vice-prefeitos, ela criticou a conduta do PSDB no segundo turno. E afirmou lá pelas tantas:

¿ Quando um não quer, dois não brigam.

E o que havia dito Lula, anteontem, no Rio Grande do Sul?

¿ Eu aprendi desde pequeno que quando um não quer dois não brigam. Nós não queremos brigar com ninguém.

Dilma, assim não dá. Ou melhor: dá muito na vista.