Título: G-20 aprova maior poder a emergentes no FMI
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Fonte: O Globo, 24/10/2010, Economia, p. 41

Reunião de ministros de Finanças propõe fim de intervenção no câmbio e redução de déficits orçamentários

GYEONGJU, Coreia do Sul.

Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo chegaram a um acordo para dar mais voz aos países emergentes de rápido crescimento, entre eles o Brasil, na estrutura de poder do Fundo Monetário Internacional (FMI). A decisão, que pegou analistas de surpresa, reflete uma importante mudança do poder econômico. Pelo acordo, mais de 6% das cotas de voto no FMI serão passadas a emergentes, como a China, que se tornará o terceiro maior integrante do órgão, que tem 187 membros.

Em outra decisão importante, os membros do G-20 também se comprometeram em um comunicado a ¿regular as desvalorizações competitivas de suas moedas¿, enquanto as nações em desenvolvimento prometeram reduzir seus déficits orçamentários ao longo do tempo e tomar ações para controlar os desequilíbrios das contas correntes.

A Europa entregará dois dos oito assentos que controla no comitê executivo do FMI, que continuará com 24 membros, segundo um comunicado emitido depois do encontro de ministros das Finanças do G-20. O grupo também decidiu dobrar as cotas do FMI, que determinam com quanto cada país contribuirá ao Fundo e quanto eles podem pegar emprestado. Hoje, as cotas somam US$ 340 bilhões.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, afirmou que as medidas poderão levar mais de um ano para serem implementadas.

Além da mudança na composição do comitê executivo, o acordo prevê a inclusão de Brasil, Rússia, Índia e China (os chamados Bric) entre os dez maiores contribuintes do Fundo. Os EUA, com 17,67% de participação nas cotas do FMI, manterão o poder de veto sobre decisões importantes, à medida que elas continuarão exigindo uma maioria de 85%.

No campo financeiro, a reunião do G-20 chegou a um consenso sobre a necessidade de conter as desvalorizações competitivas de moedas. A ideia é deixar os mercados exercerem maior influência na determinação do câmbio dos países.

Países ricos prometem vigiar suas situações fiscais

Em compensação, os países desenvolvidos se comprometem a exercer uma vigilância maior sobre suas situações fiscais, reduzindo os pesados déficits, que estão contribuindo para os desequilíbrios monetários.

A agenda de discussão dos dois dias de reunião foi pautada em torno da proposta dos EUA de conter desequilíbrios nas duas pontas: dos países com grandes superávits e os com grandes déficits em suas contas correntes. Tais desequilíbrios ameaçam detonar uma guerra comercial. Em tom diplomático, os americanos evitaram pressionar a China a valorizar o yuan, enfatizando a necessidade de redução dos desequilíbrios.

¿ Para que o mundo possa crescer a um ritmo forte e sólido no futuro, precisamos trabalhar para conquistar um maior equilíbrio no caminho da expansão global, enquanto nos recuperamos da crise ¿ afirmou o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner.

Os EUA propuseram que déficits e superávits externos deveriam ficar limitados a 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Países como Brasil e Alemanha são contra o estabelecimento de um teto definitivo.

Na sexta-feira, o ¿Financial Times¿ afirmou que a ausência do ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, na reunião do G20, gerou especulações de que o Brasil não estaria confiante no resultado da reunião preparatória para o encontro dos chefes de Estado do G-20, em Seul, em 11 e 12 de novembro.