Título: Alta do IOF aumentará custo da dívida, alertam analistas
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/10/2010, Economia, p. 39

Medida do governo elevou juros dos títulos de longo prazo, e cada ponto percentual a mais custa R$ 200 milhões

BRASÍLIA. Enquanto toma medidas para segurar a contínua valorização no câmbio, o governo vai ter de lidar com os efeitos colaterais em outras áreas. Um deles bate diretamente na dívida pública do país, sobretudo no seu financiamento.

Ao ampliar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros em renda fixa ¿ primeiro de 2% para 4% e, na semana passada, para 6% ¿, o governo também encareceu os custos dos maiores financiadores da dívida de longo prazo, já que esses títulos são os preferidos dos investidores internacionais. Cada ponto percentual de alta nos juros médios do endividamento custa R$ 200 milhões.

Segundo o próprio Tesouro Nacional, do total de NTN-F (títulos prefixados, um dos principais no estoque total da dívida) no mercado, 60,9% daqueles com vencimento em 2017 estavam nas mãos de investidores de fora. Com prazo em 2021, a participação era de 49,3%. A presença internacional na dívida doméstica brasileira cresceu 1.920% de dezembro de 2003 a agosto de 2010, respondendo por 10,1% do total.

¿ Para o Tesouro, a dificuldade pode ser na captação de recursos, com custos mais elevados. Mas o Brasil ainda atrai investidores porque paga juros elevados ¿ afirmou o especialista em contas públicas e professor da FGV-Rio Sérgio Jund, referindo-se à taxa básica de juros (Selic), hoje a 10,75% ao ano, que baliza os ganhos dos títulos públicos

Elevação de taxa básica da China também pesou O anúncio de que a alíquota do IOF subiria para 6%, feito no dia 18, pegou o mercado de surpresa, e o efeito foi imediato.

As taxas de juros dos papéis mais longos, com vencimento em 2021, por exemplo, saltaram de 11,58% para 11,96% no dia seguinte, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Na quinta-feira, chegaram a 12,07% e, na sexta, a 12,16%, uma expansão de 5% no período, já após o Banco Central (BC) divulgar medidas que fecharam as brechas para os investidores externos fugirem do IOF. Pesou nesse movimento também o fato de a China ter elevado, pela primeira vez desde 2007, sua taxa básica de juros, em 0,25 ponto percentual, no início da semana.

Não por menos, o Tesouro acabou cancelando um leilão de NTN-F com vencimento em 2021, que havia marcado na quinta-feira passada, justamente por causa dos juros maiores pedidos pelo mercado.

De acordo com cálculos do economista da Tendências Felipe Salto, para cada um ponto percentual a mais no custo médio da dívida, o governo teria de desembolsar cerca de R$ 200 milhões por ano.

¿ Quanto maior o custo (da dívida), pior para o Tesouro. O IOF veio fortalecer o movimento de aumento do custo médio da dívida, já observado desde julho passado ¿ afirmou ele.

Naquele mês, os juros médios da dívida interna estavam em 9,9% ao ano, passando a 10,6% em agosto e chegando a 11,9% no mês passado.

Dentro da equipe econômica, a avaliação é que o impacto do IOF mais pesado será diluído para os aplicadores internacionais justamente porque eles têm foco em papéis de longo prazo. Os técnicos ressaltam que a expectativa de ganhos ainda é muito grande porque a Selic é a maior taxa de juros do mundo, e o mercado estima que esta voltará a subir em 2011, chegando a 11,75% ao ano, segundo a pesquisa Focus, do próprio BC.

Para economista, IOF maior dificultará colocação de títulos

A equipe do governo, no entanto, vê risco de maior custo para a dívida, pelo menos a curto prazo, mas nada que tire o sono. Porém, a queda de braço do mercado com o Tesouro não será pequena. Com a alíquota do IOF a 2%, patamar anterior às novas medidas, o investidor internacional levava cerca de dois meses apenas para recuperar o seu capital original investido.

Agora, com a alíquota a 6%, esse tempo pulou para pouco mais de sete meses.

O economista do Santander Maurício Molan entende que, na margem, o imposto maior vai dificultar e encarecer a colocação de títulos por parte do Tesouro. Mas o apetite dos investidores estrangeiros não será reduzido por causa disso. O especialista acredita que, mesmo pedindo mais juros para comprar os papéis brasileiros, esses aplicadores poderão ampliar ainda mais o tempo que ficarão com eles em mãos.

¿ O que podemos ver é um aumento da demanda por papéis mais longos, o que é interessante ¿ afirmou Molan.

Procurado, o Tesouro Nacional não quis comentar o assunto.