Título: Revista: Dilma e Carvalho pediam dossiês
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Fonte: O Globo, 24/10/2010, O País, p. 9

Em conversa que teria sido gravada legalmente, o hoje secretário nacional de Justiça se queixa de pressões

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Gravações feitas no gabinete do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, de conversas com altos funcionários do Ministério da Justiça, revelam o desconforto de Pedro Abramovay, que sucedeu a Tuma no cargo, com supostos pedidos do Planalto para a confecção de dossiês.

As informações são de reportagem de capa da revista ¿Veja¿ desta semana. Numa conversa com Tuma Júnior, Abramovay teria feito a seguinte queixa: ¿Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho (chefe de Gabinete da Presidência da República) pra fazer dossiês. (...) Eu quase fui preso como um dos aloprados.¿ Ontem, Dilma Rousseff e Carvalho negaram as acusaçõe Abramovay negou conteúdo das conversas com Tuma ¿Veja¿ diz que as gravações foram feitas legalmente e periciadas, sem dar detalhes sobre quem fez as gravações nem se elas teriam sido autorizadas pela Justiça ou foram feitas por um dos participantes da conversa.

Sobre a referência aos ¿aloprados¿, a reportagem explica que Abramovay trabalhava na liderança do PT no Senado e com o senador petista Aloizio Mercadante em 2006, quando petistas foram presos em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um suposto dossiê contra o tucano José Serra. Segundo ¿Veja¿, na conversa com Tuma Júnior, Abramovay ¿sugere ter participado do episódio e se arrependido¿.

Conta que quase teria sido preso na época e teve de se esconder. ¿Deu `bolo¿ a história do dossiê¿, teria afirmado ele.

Abramovay, que era secretário de Assuntos Legislativos do ministério, assumiu em junho, depois que Tuma Júnior foi afastado sob suspeita de manter relacionamento com a máfia chinesa em São Paulo. À ¿Veja¿, Abramovay negou as conversas: ¿Nunca recebi pedido algum para fazer dossiê, nunca participei de nenhum suposto grupo de inteligência da campanha da candidata Dilma Rousseff e nunca tive de me esconder ¿ ao contrário, desde 2003 sempre exerci funções públicas¿.

Procurado ontem, Tuma Júnior não foi localizado. À ¿Veja¿, confirmou: ¿O Pedro reclamou várias vezes que estava preocupado com as missões que recebia do Planalto. Ele me disse que recebia pedidos de Dilma e do Gilberto para levantar coisas contra quem atravessava o caminho do governo¿, replicou.

¿Posso assegurar que está tudo bem documentado¿.

Em outra conversa, que, segundo ¿Veja¿, teria sido em janeiro deste ano, Tuma Júnior e Abramovay falam da sucessão no ministério. Tarso Genro deixava a pasta para se dedicar àcampanha pelo governo gaúcho.

Abramovay revela temor sobre a suposta falta de força política do então secretário executivo Luiz Paulo Barreto, que viraria ministro: ¿Isso (o cargo de ministro) é maior que o Luiz Paulo (...). Agora eles vão pedir... para mim...

pedir para a Polícia (Federal).¿ No último diálogo citado pela revista, Barreto, em maio, já chefiando a Justiça, mostra o poder dado ao diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa. No gabinete do ministro, ele, Tuma Júnior e a chefe de gabinete de Barreto, Gláucia de Paula, conversam.

Barreto fala sobre o possível indiciamento de Gilberto Carvalho, por causa de conversas com o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, na Operação Satiagraha, que prendeu Daniel Dantas.

Ao responder a uma pergunta de Gláucia sobre se Gilberto Carvalho, chefe de Gabinete da Presidência, foi indiciado, Barreto afirma: ¿O processo foi travado.

Deu m... (...) O negócio do grampo. O Luiz Fernando falou para não se preocupar¿.

Ontem, Abramovay soltou nota negando novamente a denúncia de ¿Veja¿ e afirmando que a escuta é clandestina. ¿Nego peremptoriamente ter recebido, de qualquer autoridade da República, em qualquer circunstância, pedido para confeccionar, elaborar ou auxiliar na confecção de supostos dossiês partidários¿, diz. E acrescenta: ¿A revista se recusou a fornecer o conteúdo da suposta conversa ou mesmo a íntegra de sua transcrição¿.

A Polícia Federal informou que não fez escutas ambientais no gabinete de Tuma Júnior. E mandou um recado: se as gravações forem clandestinas, os responsáveis vão responder. A PF pode abrir inquérito, mas não confirma oficialmente.