Título: Surto de cólera chega à capital do Haiti
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Fonte: O Globo, 25/10/2010, O Mundo, p. 23

Cinco casos são confirmados em Porto Príncipe e autoridades temem que doença se espalhe entre refugiados PORTO PRÍNCIPE. Autoridades de saúde e representantes da Organização das Nações Unidas no Haiti temem que a infecção por cólera, ainda restrita a zonas rurais, alcance os campos de refugiados onde vivem em condições precárias mais de um milhão de sobreviventes do terremoto que devastou Porto Príncipe em janeiro.

Isso porque cinco casos da doença foram confirmados este fim de semana na capital haitiana. Para piorar a situação, novos estudos mostram que o país corre o risco de sofrer um novo terremoto de grande magnitude.

O surto de cólera já infectou 3.015 pessoas e matou 254 em todo o país, principalmente na região de Artibonite e Plateau Central. A porta-voz da ONU, Imogen Wall, classificou de ¿horrível¿ a possibilidade de o surto se alastrar para a capital.

Mas autoridades sanitárias afirmam que ele parece estar se estabilizando, porque nas últimas 48 horas foram registrados menos casos.

Centenas de milhares de pessoas ainda vivem em acampamentos sem sistemas sanitários adequados, o que poderia facilitar a disseminação da cólera. E as agências de ajuda humanitária correm contra o relógio para evitar uma epidemia que poderá ter consequências desastrosas. Os cinco doentes em Porto Príncipe estão em quarentena. Segundo Imogen, eles se contaminaram em Artibonite, mas só apresentaram sintomas na capital.

¿ Parte do problema é que não há um isolamento rigoroso nos lugares com surtos e nos hospitais, e as pessoas estão se deslocando muito ¿ declarou.

¿ Se temos casos na capital, a única forma de contêlos é o isolamento. Impedir que a doença se propague é nossa maior preocupação.

Daniel Rouzier, presidente da ONG Board of Trustees of Food for the Poor, também criticou as autoridades haitianas e as organizações internacionais por não haverem atuado com suficiente rapidez.

¿ Já se passaram dias e não há um cordão de segurança.

Se os pacientes recebessem cuidados médicos suficientes em suas áreas, a situação não teria chegado a esse ponto ¿ disse Rouzier. ¿ Mas ainda dá tempo de reagir para reduzir o número de mortes.

Por sua vez, a República Dominicana determinou medidas de vigilância sanitária rigorosa nas feiras na fronteira com o vizinho para impedir a entrada de determinados alimentos, como comida cozida, pescado e água do Haiti, e assim evitar a disseminação da cólera.

A doença é transmitida por uma bactéria que se propaga através da água e de alimentos contaminados.

País corre risco de sofrer um novo grande tremor E a tragédia no Haiti poderá ser ainda maior. Dois diferentes estudos publicados na revista ¿Nature Geoscience¿ dizem que o país corre o risco de sofrer um novo tremor de grande impacto. O abalo sísmico do início do ano causou a morte de mais de 200 mil pessoas. Segundo os autores, esse terremoto pode ter sido causado por uma falha geológica diferente da que era até então considerada.

¿Como a falha EnriquilloPlantain Garden ainda não liberou tensão acumulada significativa, ela se mantém como uma ameaça sísmica para o Haiti e Porto Príncipe, em particular¿ escreveram Eric Calais, da Purdue University, dos EUA, e outros pesquisadores.

¿Muito trabalho precisa ser feito para identificar e quantificar fontes potenciais de terremotos na ilha, onde a vulnerabilidade a tremores deve permanecer alta num futuro próximo¿, afirmam.

Um outro estudo, na mesma edição, e liderado por Carol Prentice, de um centro de pesquisa geológica da Califórnia, também diz que o abalo de janeiro de 2010 talvez não tenha liberado a pressão do sistema de falhas de Enriquillo-Plantain Garden.