Título: Reta final decide futuro d Obama
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Fonte: O Globo, 25/10/2010, O Mundo, p. 22

Presidente planeja e estrategistas comentam a agenda pós-eleição

OBAMA FAZ campanha em Las Vegas ao lado de Harry Reid que, caso não seja reeleito, pode deixar a liderança do Senado

Do New York Times

A campanha para as eleições legislativas americanas entrou ontem na sua reta final, com líderes dos partidos democrata e republicano mostrando otimismo sobre o resultado no Congresso que irá decidir o futuro do governo de Barack Obama. Enquanto isso, o presidente já planeja sua agenda política para depois do pleito. Apesar de os republicanos estarem aparentemente cada vez mais perto de ganhar um número considerável de cadeiras na Casa, deixando Washington à beira de uma mudança substancial na balança do poder, Tim Kaine, o líder dos democratas, disse estar confiante no desempenho do seu partido.

¿ Estamos vendo boas previsões de voto e ainda temos trabalho a fazer, mas pensamos que podemos conseguir. Quanto maior o número de pessoas que comparecerem às urnas, melhor será o nosso desempenho e nós estamos vendo uma forte tendência nesse sentido nas pesquisas e comícios presidenciais ¿ disse Kaine.

Apesar do otimismo, pesquisas indicam que os democratas perderão espaço no Senado. Na Câmara, 28 assentos do partido devem passar às mãos de republicanos, enquanto 40 outros são vistos como imprevisíveis. Para ganhar a maioria, os republicanos precisam conseguir 39 desses lugares. E, mesmo pelos cálculos mais conservadores, os republicanos parecem estar bem posicionados para reconquistar a maioria que perderam há quatro anos.

¿ Há candidatos democratas que parecem ainda estar na corrida, mas estamos dando o golpe fatal ¿ disse Pete Sessions, presidente do comitê republicano do Congresso. ¿ Quando olhamos para todo o país, estamos vendo figuras democratas emblemáticas vivendo num mundo de dor.

Derrota favoreceria reeleição em 2012

É óbvio que Obama quer que os democratas saiam vitoriosos no dia 2. Mas, de acordo com analistas, uma vitória republicana poderia beneficiar o presidente, cuja popularidade está em queda. Apesar de ter saído por cinco Estados em apoio aos candidatos democratas, numa turnê encerrada ontem, Obama provavelmente se fortaleceria se o ¿inimigo¿ conquistasse o Congresso, segundo especialistas.

¿ O melhor resultado para Obama, politicamente, é que os republicanos obtenham o controle das duas Casas ¿ afirma Douglas E. Schoen, pesquisador e estrategista que ajudou Bill Clinton a se recuperar de sua derrota no Congresso em 1994, para ganhar a reeleição dois anos depois. ¿ Isso é o que Obama deveria querer.

Logicamente, uma vitória dos republicanos significaria o fim para algumas das propostas mais caras a Obama, pelo menos por agora. Mas outras oportunidades poderiam se abrir ao presidente se ele souber tirar vantagem da situação, de acordo com especialistas políticos de várias tendências. Ele deve encontrar um caminho para forjar acordos com os republicanos sobre questões como economia, energia e educação, ou pode pintar o Congresso como um adversário, como Bill Clinton fez há 15 anos.

¿ Se os republicanos conquistarem a Câmara e o Senado, as chances de Obama vencer em 2012 aumentam ¿ disse Steven M. Gillon, professor da Universidade de Oklahoma.

Além disso, Steve Elmendorf, um alto funcionário da Casa Branca nos anos 90, ressalta que, caso haja bloqueio no Congresso em relação a importantes reformas, Obama pode usar isso a seu favor, se conseguir culpar o inimigo.

¿ Ele pode dizer: ¿eu quero resolver os grandes problemas do país e os republicanos não deixam¿ ¿ explica.

Enquanto aguarda as definições para o Congresso, Obama começa a dar sinais de como irá governar o país após as eleições, apesar de a Casa Branca se negar a comentar qual será a estratégia do presidente caso os republicanos conquistem a maioria na Casa. Dentre os temas que serão abordados com mais ênfase por Obama estão a redução do déficit, a educação e a política energética. Ele tentará também fortalecer suas reformas de saúde e financeiras ¿ tarefa que se tronará mais complicada caso os resultados confirmem a tendência de vitória dos republicanos.

Com agências internacionais

Muito barulho por nada?

Levantamento mostra que, apesar de eloquente, o Tea Party é pouco coeso

SARAH PALIN, estrela do Tea Party, no Arizona

Amy Gardner

WASHINGTON. Num ano de eleições imprevisível e caótico, nenhum grupo tem afirmado a sua presença e exigido ser ouvido com mais força do que o Tea Party. O movimento passou a subverter a ordem política existente, remodelando o debate em Washington, e derrotando um número de legisladores proeminentes e escolhendo um novo elenco de estrelas conservadoras. Mas um novo levantamento feito pelo ¿Washington Post¿ com centenas de grupos locais do Tea Party revela que o movimento é sobretudo composto de grupos vagamente ligados uns aos outros, que fazem muito pouco para participar do processo político.

Setenta por cento desses grupos disseram que não participaram de nenhuma campanha política deste ano. Como um todo, eles não têm oficialmente nenhum candidato, têm pouco dinheiro nas mãos, e permanecem ambivalentes sobre seus objetivos políticos.

¿ Não queremos ser um terceiro partido ¿ disse Matt Ney, de 55 anos, dono de um centro de Pilates e fundador de um grupo do Tea Party no Texas. ¿ O que nós estamos tentando fazer é consolidar uma ideia conservadora.

Os grupos locais contrastam com um punhado de grandes organizações nacionais que reivindicam o rótulo do Tea Party. A maioria destes são dirigidos por políticos de longa data que usam seus recursos e experiência para ajudar a eleger um número de candidatos.

Os resultados sugerem que a amplitude do Tea Party pode ser inflada. Em vários casos, o estudo não conseguiu encontrar boa parte dos membros declarados pelos grupos locais. Muitos dos grupos divulgam ter centenas, ou milhares, de seguidores, mas a maioria disse, em entrevista, que tinha menos de 50 membros.

Há pouca concordância entre líderes dos grupos sobre quais devem ser as principais bandeiras do Tea Party, e em que elas devem diferir das do Partido Republicano, a partir de onde o movimento surgiu. Na verdade, poucos se viam como parte de um esforço coordenado.

Se alguma coisa os liga, é o que motivou seus membros a participar. Praticamente todos disseram que as questões econômicas são um fator, e quase todos citaram uma desconfiança geral do governo Obama. Mas a insatisfação com os principais líderes republicanos também foi muito indicada.

Enquanto os grupos do Tea Party ainda não têm uma visão unificadora, os resultados mostram que estão prontos para a ação. Mais de 86% dos líderes locais disseram que a maioria de seus membros são novos na atividade política, sugerindo que poderiam ser transformados numa potente força para as eleições presidenciais de 2012. Naturalmente, sua falta geral de interesse na política também sugere que poderiam facilmente recuar, especialmente se a economia melhorar.

Embates duros de olho nas Procuradorias-Gerais

Em NY, fiscalização de Wall Street na pauta

Fernanda Godoy

NOVA YORK. Eles prometem combater a corrupção, as fraudes, o crime, ajudar pessoas que estão ameaçadas de perder suas casas, lutar por direitos civis. Os candidatos a procurador-geral, cargo que na maioria dos estados americanos é ocupado por escolha do voto popular, estão entre os personagens mais importantes das eleições. São disputas que chamam atenção não só pela importância do cargo, mas pelo que desenham do futuro político: em Nova York, o favorito para governador é o democrata Andrew Cuomo, ex-procurador-geral, e o último governador eleito foi Eliot Spitzer, que ficou conhecido como ¿o xerife de Wall Street¿ quando foi procurador-geral de Nova York.

Com uma equipe de mais de 600 advogados, o gabinete do procurador-geral de Nova York é uma instituição que atua na defesa do estado, conduz investigações e ações criminais, e também ações civis e de defesa do consumidor. Na gestão de Cuomo, o perfil de fiscalização de Wall Street foi mantido.

A atual campanha está entre o democrata Eric Schneiderman e o republicano Daniel Donovan. Em seus anúncios na TV, Schneiderman usa o seguinte slogan: ¿Quando eu for procurador-geral, se você infringir a lei, pagará por isso¿. Por seu compromisso com o combate a ¿interesses poderosos¿ em Albany, capital do estado, e em Wall Street, o democrata recebeu o apoio do ¿New York Times¿, que considera sua abordagem mais suave com Wall Street. O republicano recebeu amplo financiamento ¿ cerca de US$250 mil, ou 25% do US$1 milhão que arrecadou até meados deste mês ¿ de um único hedge fund de Wall Street, chamado Elliott Management.

Uma frente de grande visibilidade para os procuradores-gerais é a batalha, encampada pelos representantes de todos os 50 estados, contra o despejo dos cidadãos que estão inadimplentes ou com problemas no pagamento da hipoteca de suas casas. A briga judicial acontece porque alguns bancos são acusados de não ter a documentação completa ou até de fraudes.

Outros temas de grande apelo popular nos quais a posição do procurador-geral pesa são o aborto, o direito dos homossexuais à união civil e a pena de morte.