Título: Na reta final, campanhas contra a abstenção
Autor: Jungblut, Cristiane; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 25/10/2010, O País, p. 4

Última semana antes das eleições terá ainda debates entre os candidatos na TV; PT tentará minimizar denúncias

BRASÍLIA. Nesta semana final da disputa eleitoral, o comando das campanhas da candidata do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, José Serra, prepararam superagendas e lutam contra um inimigo comum: a abstenção do eleitor no dia da votação. A preocupação do comando do PT é com a abstenção na Região Nordeste ¿ onde Dilma lidera disparada as pesquisas de intenção de voto.

Já o comando da campanha de Serra quer evitar que o eleitor deixe de votar, sobretudo, em São Paulo. Os dois candidatos se enfrentam hoje em debate na Rede Record, e, na quinta-feira, na Rede Globo.

Uma das principais estratégias da campanha de Dilma é tentar minimizar o impacto das denúncias publicadas pela revista ¿Veja¿. Segundo a publicação, diálogo gravado em janeiro deste ano, no gabinete do então secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., e Pedro Abramovay (que sucedeu a Tuma Jr.

no cargo), revela pressões que Abramovay teria sofrido, por parte de Dilma e do chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, para elaborar dossiês contra tucanos. Dilma e Carvalho negam as denúncias.

Dirigentes da campanha e integrantes do governo Lula dizem que a matéria seria fruto de uma vingança de Tuma Jr., que deixou o cargo depois de investigações sobre seu envolvimento com a máfia chinesa em São Paulo.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, minimizou as denúncias.

¿ A capa da revista é mais bombástica do que a reportagem ¿ disse Dutra.

Tuma Júnior não quis dar entrevista, mas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa e de parentes, que não dispõe das gravações citadas pela reportagem.

Tuma estaria no interior de São Paulo com a família.

Para criar novos fatos, o PT preparou uma maratona de eventos para Dilma. Hoje, antes de participar do debate da Rede Record, a candidata deve lançar seu programa de governo com 13 pontos, sem temas polêmicos, como o aborto.

Amanhã, Dilma fará comícios no Nordeste. Já o presidente Lula terá uma agenda separada de viagens pelo país.

O programa de governo terá 13 compromissos genéricos. Os pontos falam de fim da miséria, geração de empregos, educação e saúde. Segundo o coordenador da redação do programa, Marco Aurélio Garcia, temas como o aborto nunca estiveram na proposta original.

Para o PT, todo o cuidado é pouco nestes dias derradeiros de campanha. A ordem do próprio presidente Lula foi ¿não entrar em baixarias¿ e mobilizar os eleitores para evitar a abstenção.

Dutra admitiu que a maior preocupação do PT é com a abstenção no Nordeste, principalmente nas áreas rurais, onde pode faltar transporte.

Por isso, Dilma irá amanhã a Fortaleza (CE), Caruaru (PE) e Vitória da Conquista (BA).

Na quarta-feira, Dilma deve ir a Divinopólis, no oeste de Minas, e encerrar a campanha numa caminhada em Belo Horizonte no sábado, ao lado de Lula.

Do lado da campanha de Serra, também se prevê uma agenda pesada, mas com concentração no Sudeste. A ordem é ampliar os votos em São Paulo e Minas Gerais, onde os tucanos dizem já ter conseguido ¿empatar o jogo¿. A preocupação é reforçar eventos em São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Mas há a possibilidade de o tucano ainda marcar presença no Nordeste.

Para eles, a participação de Serra nos debates será crucial.

De acordo com aliados do tucano, a estratégia é focar nas periferias das grandes cidades, como São Paulo, onde o governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB) deve ter papel central. A previsão é de que Serra volte ao Rio ao longo da semana, para visitar o Maracanã e discutir temas ligados à Copa de 2014.

PSDB ganha direito de resposta no programa do PT Quanto às denúncias, a avaliação é que têm impacto só na classe média, e a ordem é aguardar novos desdobramentos dos fatos, como o aparecimento de áudio citado por ¿Veja¿ e o depoimento da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, hoje.

¿ No Sudeste, temos espaço para crescer mais ainda. Essa nova denúncia (da ¿Veja¿) nos favorece, porque, como no primeiro turno, o que pesou contra a Dilma foi o conjunto da obra ¿ disse o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.

¿ Estamos trabalhando nos estados e na estratégia de TV ¿ acrescentou o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ).

O PSDB ganhou novo direito de resposta num programa eleitoral do PT, de um minuto de duração. Ontem, o ministro Joelson Dias, do TSE, considerou que houve ofensa ao tucano no trecho da propaganda petista que acusa a campanha tucana de uso de ¿caixa dois¿.