Título: Clima é o primeiro fracasso
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Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2009, Economia, p. 19

Países mais ricos desistem de estabelecer uma meta forte para queda na poluição.

A reunião de cúpula de três dias dos chefes de Estado e Governo do G-8 teve início ontem na cidade italiana de L¿Aquila (1) . O primeiro dia do encontro entre os países mais industrializados do mundo e os principais emergentes foi marcado por um revés relativo à questão climática. As grandes economias mundiais, responsáveis por 80% das emissões de gases que provocam o efeito estufa, desistiram do objetivo de reduzi-las à metade em 2050, informou uma fonte europeia.

A decisão foi tomada no Fórum das Maiores Economias (FME), que reúne 16 países: o G-8 (EUA, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Canadá e Rússia) e o G-5 de grandes emergentes (China, Índia, Brasil, México e África do Sul), além de Austrália, Indonésia e Coreia do Sul. ¿Há um forte compromisso para reduzir até 2050 de forma substancial as emissões mundiais, mas não será de 50%¿, declarou uma fonte.

O FME deve manter, no entanto, o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados em relação aos níveis prévios à revolução industrial. Os governantes dos Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão debaterão temas como aquecimento global, luta contra a pobreza e Irã, cujas atividades nucleares preocupam a comunidade internacional.

Hoje e amanhã, as discussões serão ampliadas aos grandes emergentes, países da África e organizações internacionais. Quase 40 chefes de Estado e de Governo e dirigentes de instituições multilaterais são esperados em L¿Aquila, devastada em 6 de abril por um terremoto que deixou 299 mortos.

Crise O encontro dos chefes de Estado e Governo do G-8 de três dias teve início nesta quarta-feira na cidade italiana de L¿Aquila (centro) com um almoço de trabalho, no qual se conversou sobre a situação da economia mundial e a respeito dos temores de problemas sociais. Em seu projeto de declaração comum divulgado ontem por fontes diplomáticas, os dirigentes do G-8 afirmam que há ¿sinais de estabilização¿ da economia.

Entretanto, ¿a situação continua incerta e riscos permanecem para a estabilidade econômica e financeira. Observamos sinais de estabilização de nossas economias e pensamos que a inversão de tendência será reforçada quando nossas medidas (de apoio) tiverem atingido seu máximo efeito¿, afirmam no documento os dirigentes dos oito países mais industrializados. ¿Daremos os passos necessários, individualmente e coletivamente, para levar de volta a economia mundial no caminho de um crescimento forte e duradouro¿, prometem.

A crise econômica mundial é um dos principais temas de discussão do G-8, que acontece até sexta-feira. Segundo a fonte, a declaração não inclui indicação sobre um nível aceitável dos preços do petróleo, cuja volatilidade pode prejudicar a recuperação econômica, limitando-se a mencionar a importância da ¿colaboração¿ entre países produtores e consumidores. Presentes à reunião, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, querem a definição de preços do petróleo ¿compatível com os fundamentos¿ da economia.

1 TERREMOTO L¿Aquila localiza-se no centro da Itália. Fica 68 quilômetros a oeste de Pescara e 95km a nordeste de Roma. Em 6 de abril, a cidade foi devastada por um terremoto de 6,3 graus na escala Richter, deixando 299 mortos e 1.500 feridos. Equipes de resgate usaram escavadeiras e as próprias mãos na busca por sobreviventes. Cerca de 12,5 mil edifícios foram atingidos, entre eles prédios novos e contruções do século 15. O medo de novos tremores fez com que a equipe de segurança do G-8 preparasse um esquema especial de retirada dos líderes de países que participam do encontro.

G-5 cobra acordo

O grupo dos cinco países emergentes, o G-5, pediu às potências do G-8 que cumpram os compromissos acertados em Londres, em abril passado, para facilitar o crédito e impedir práticas protecionistas. Além disso, querem que cedam espaços de poder nas instituições financeiras internacionais. O pedido foi feito porque aquele encontro, até agora, está na linha do ditado popular: ¿Para inglês ver¿. O atual, do G-8, segue o mesmo caminho.

¿É importante acertar medidas, mas é mais importante cumprir com as promessas¿, afirmou o presidente mexicano, Felipe Calderón, em coletiva de imprensa junto com os demais líderes do G-5 que se reuniam em L¿Aquila. O G-5 é formado pela China, Índia, Brasil, México e África do Sul. Calderón insistiu que o grupo dos países ricos deve cumprir com os compromissos que o G-20 (integrado por ambos os grupos e por outras potências regionais, como a Arábia Saudita e Nigéria) assumiu na cúpula que realizou em Londres.

¿Estamos preocupados com a canalização de recursos para estabelecer o crédito internacional¿, afirmou o presidente mexicano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou seu receio de que alguns países ricos estejam esperando que ¿a crise acabe sozinha para, no final das contas, nada mudar¿.