Título: Dilma lança compromissos genéricos
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 26/10/2010, O País, p. 10

Diretrizes anunciadas ontem não detalham medidas em áreas como a economia; aliados admitem que faltou acordo

SÃO PAULO. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT), divulgou ontem, a seis dias das eleições, uma ¿carta-compromisso pela governabilidade¿, texto com 13 diretrizes gerais que substitui um programa formal de governo. Segundo aliados, as propostas para a área econômica não serão divulgadas porque há o temor de que isso cause turbulências no mercado.

Assim, foram repetidos ideais genéricos, como ¿a manutenção da estabilidade¿, ¿o controle da inflação¿ e o ¿equilíbrio fiscal¿.

O documento, com oito páginas de texto e tiragem de cem cópias, não aborda temas que suscitaram polêmica no primeiro turno, quando Dilma apresentou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) propostas de governo do PT que incluíam o controle social da mídia, a descriminação do aborto e a taxação de grandes fortunas ¿ substituídas por uma versão mais branda.

Dilma: ¿Não tem metas, são diretrizes¿ No primeiro item das diretrizes divulgadas ontem, sobre a defesa da democracia, há o compromisso de ¿garantia irrestrita às liberdades de imprensa, expressão e religião¿.

¿ São compromissos que fundam nossa governabilidade.

Obviamente, eles são gerais, não tem metas. São diretrizes ¿ reconheceu Dilma, em entrevista após o ¿ato de lançamento¿.

Improvisado e fechado para o público, o ato reuniu um pequeno grupo de aliados e líderes políticos num hotel. Dilma sequer permaneceu para o almoço de ¿congraçamento¿.

O detalhamento de metas e projetos consta de 25 ¿cadernos setoriais¿, segundo o coordenador do programa de governo, o assessor especial licenciado da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Alguns foram apresentados ao público, mas a maioria deve continuar longe dos holofotes, até a transição de governo.

¿ A questão econômica é mais complexa, não poderíamos entrar em detalhamento agora.

Nas questões econômicas nevrálgicas, não adianta ficar anunciando agora porque vai causar mais confusão ¿ disse o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, cuja sigla defende, por exemplo, a quarentena e o controle severo do fluxo de capital especulativo.

As diretrizes incluem o compromisso de seguir uma ¿política macroeconômica consistente com o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e uma baixa vulnerabilidade a choques e com o crescimento mais rápido na renda das camadas mais pobres da população¿. No lugar de uma reforma, são citadas apenas ¿mudanças¿ na política tributária. Não há menção a ajustes na Previdência.

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, disse que o grupo teve dificuldade para chegar a consenso em economia, Previdência e transportes: ¿ O documento é um termo de compromisso entre os partidos.

Os detalhes serão negociados na transição, não agora. A campanha foi curta, e o clima não foi propício. Na economia, houve preocupação em não afetar a estabilidade. É muito sensível.

Qualquer coisa que você disser, altera a bolsa, os preços o dólar ¿ disse Amaral.

Segundo Garcia, seria uma ¿irresponsabilidade¿ detalhar medidas econômicas agora: ¿ Qual é o governo que poderia incluir em um programa medidas que são, na realidade, questão de gerenciamento? Incluir medidas de câmbio.

por exemplo, seria uma irresponsabilidade.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que as bases da política econômica são as mesmas do governo Lula: ¿ Para a economia, temos as regras gerais. A base é o que já foi colocado por Lula.