Título: Investimento direto estrangeiro sobe e volta a cobrir déficit externo
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 26/10/2010, Economia, p. 28

Aporte para setor produtivo foi de US$ 5,48 bilhões no mês passado

BRASÍLIA. Com o melhor resultado dos últimos dois anos, o Brasil voltou a receber, em setembro, investimentos estrangeiros diretos (IED) mais robustos, suficientes para cobrir todo o déficit em transações correntes do país (relações de troca com o exterior). Isso não ocorria desde maio. No mês passado, segundo o Banco Central (BC), o investimento externo produtivo somou US$ 5,485 bilhões, a melhor marca para esse mês desde 2008 (US$ 6,241 bilhões) e, em outubro, acumulava US$ 4,5 bilhões até ontem. A projeção do BC para o mês todo é de US$ 5 bilhões.

O desempenho do IED é particularmente importante no momento porque existe uma tendência de retração dos investimentos em portfólio, devido ao aumento da tributação das aplicações de estrangeiros em renda fixa. Investimentos produtivos e no mercado formam a conta financeira do balanço de pagamentos, que precisam cobrir os déficits correntes para que as contas externas fiquem equilibradas.

As transações correntes ¿ que englobam os negócios do país com o exterior, como balança comercial e viagens internacionais ¿ ficou negativa em US$ 3,850 bilhões em setembro, o pior resultado para esse mês desde 1998, quando o déficit foi de US$ 4,837 bilhões. No acumulado deste ano, até setembro, o déficit corrente chega a US$ 35,063 bilhões, 191% a mais do que a cifra de um ano antes.

¿ O cenário macroeconômico para o Brasil é favorável.

A economia mundial não vai tão bem e o país acaba se transformando em um ponto de atração de IED. Mas é cedo para falar em tendência da retomada do IED ¿ afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Remessa de lucros chega a US$ 1,628 bi em setembro Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, a aceleração do IED em setembro e neste mês foi uma surpresa, mas ainda não pode ser considerada uma tendência: ¿ O IED no mundo todo está fraco, mas o Brasil deve aumentar sua fatia no mercado global.

O mau desempenho da conta corrente no mês passado veio sobretudo das remessas de lucros e dividendos de empresas multinacionais instaladas no Brasil, que somaram US$ 1,628 bilhão.

Em outubro, até ontem, já chegavam a US$ 1,606 bilhão.

O déficit com viagens internacionais também foi forte, chegando a US$ 1,125 bilhão em setembro e a US$ 765 milhões em outubro, até ontem. Com o dólar na casa de R$ 1,70, os gastos dos turistas brasileiros lá fora somaram US$ 1,580 bilhão no mês passado, recorde absoluto desde o início da série histórica do BC, em 1947.

¿ Esses gastos estão relacionados também com ganho de renda e emprego da população ¿ acrescentou Lopes, do BC.

Já os turistas estrangeiros deixaram US$ 454 milhões no país em setembro. Em outubro, até ontem, os gastos líquidos com viagens internacionais somavam US$ 951 milhões.

Governo eleva meta de exportações para US$ 195 bi Ainda segundo o BC, os desembolsos líquidos com juros chegaram a US$ 386 milhões no mês passado, enquanto a balança comercial apresentou superávit de US$ 1,092 bilhão. O movimento dos investimentos em portfólio cedeu. Em outubro, as aplicações em renda fixa somavam US$ 1,660 bilhão. No mês passado, ficaram em US$ 1,074 bilhão, 60,79% a menos do que em agosto. Os investimentos estrangeiros em ações somaram US$ 8,189 bilhões em setembro, influenciados pela capitalização da Petrobras, e neste mês estavam em US$ 4,347 bilhões.

O crescimento das cotações das commodities agropecuárias, metálicas e minerais; a retomada das vendas de produtos manufaturados para a América Latina e o Caribe; e a recuperação das economias emergentes em 2010 levaram o governo a rever para cima sua meta oficial de exportações para este ano, de US$ 180 bilhões para US$ 195 bilhões.