Título: JPMorgan compra gestora de Arminio Fraga
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 26/10/2010, Economia, p. 29

Após meses de rumores, banco americano assume controle da Gávea Investimentos. Executivo fica mais 5 anos à frente da empresa

ARMINIO FRAGA: estima-se que valor da administradora de recursos chegue a US$1 bilhão

O banco de investimentos americano JPMorgan Chase acertou a compra da Gávea Investimentos, butique financeira do ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga. Foram mais de dois anos de negociações, interrompidas pela crise econômica mundial. O acordo envolve a compra da totalidade do controle da Gávea pela Highbridge Capital Management, gestora de fundos alternativos do banco e a segunda maior do mundo. Ficou acertado ainda que Arminio permanecerá por, pelo menos, mais cinco anos à frente da empresa que fundou em 2003.

Oficialmente, JPMorgan e Gávea não confirmaram a operação, alvo de rumores no mercado desde fevereiro. Mas uma fonte próxima às negociações confirmou o acordo. Nos bastidores, as empresas preparavam ontem o anúncio do negócio para hoje. Especialistas estimam o valor da gestora entre US$800 milhões e US$1 bilhão. O cálculo tem com base a venda de uma fatia da empresa em 2007 para um fundo de Harvard, operação que acabou cancelada.

Gestora é voltada para grandes investidores

Segundo uma fonte, o JPMorgan vai adquirir inicialmente 55% da Gávea Investimentos, mais do que o suficiente para assumir o controle da gestora. Essa parcela será paga em dinheiro. A fatia restante será adquirida nos próximos cinco anos, em duas parcelas iguais de 22,5%.

Para especialistas no setor, mais do que a rentabilidade dos fundos administrada pela Gávea, o JPMorgan encontrou uma forma de aumentar sua presença no Brasil por meio de uma gestora já estruturada, com equipe qualificada e uma clientela de alto poder aquisitivo. E ajudou o fato de Arminio ser membro do conselho internacional do JP.

¿ Para a Gávea será também um grande negócio, porque a gestora poderá colocar seus produtos no mundo inteiro por meio do JPMorgan, que atua em mais de uma centena de países ¿ disse o sócio de uma administradora de recursos.

Com sede em um edifício na Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, a Gávea tem 119 funcionários, sendo parte no escritório de São Paulo. Seus fundos são para investidores qualificados, como bancos e grandes fundos estrangeiros e nacionais. Mas entre eles há uma parcela de pessoas físicas e empresas. O fundo mais ¿barato¿ da Gávea tem um investimento inicial de R$100 mil. Já um fundo multimercado pode exigir um aporte mínimo de R$1 milhão.

Em setembro passado, a gestora tinha R$10,1 bilhões sob gestão, dos quais R$4,16 bilhões alocados em fundos de investimentos. O restante está distribuído entre as atividades de administração de grandes fortunas pessoais e de private equity (compra de participação em empresas).

O fundo de Arminio investiu nos últimos anos em empresas de diferentes setores, como McDonald¿s, Droga Raia, RBS e Grupo ABC (comunicação). Em maio deste ano, a Gávea comprou ainda 14,5% do braço imobiliário para baixa renda do Grupo Odebrecht.

Sem chance de participação em eventual governo Serra

Já no ramo de gestão de fortunas, o fundo de Arminio associou-se em setembro de 2009 à Arsenal, criando a Gávea Arsenal Gestão de Patrimônio. Somadas, as empresas administravam uma carteira R$4,5 bilhões de um grupo de 60 clientes. O JPMorgan também está de olho nesse mercado. O Brasil tem cada vez mais milionários.

Quando fundada por Arminio em 2003, a gestora tinha nos quadros boa parte da equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Entre eles, Luiz Fernando Figueiredo, que foi diretor de Política Monetária do Banco Central. Em 2005, Figueiredo deixou a sociedade e abriu o Mauá Investimentos, em São Paulo.

Outro que deixou a Gávea foi Ilan Goldfajn, atualmente economista-chefe do Itaú Unibanco. Amaury Bier, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, e Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho no governo FH, continuam na gestora.

Com o acordo de permanência de mais cinco anos na Gávea, termina a possibilidade de Arminio voltar a fazer parte da equipe econômica do governo em caso de vitória do candidato José Serra nas eleições presidenciais de domingo, como foi cogitado pelo mercado.