Título: Meirelles quer medidas imediatas contra bolhas
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 27/10/2010, Economia, p. 25

Em NY, presidente do BC diz que é preciso agir contra desequilíbrios no crédito e no câmbio gerados pelo crescimento do Brasil

Correspondente

NOVA YORK. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem a investidores em Nova York que o Brasil e outros países devem agir para evitar que uma nova injeção de liquidez no mercado americano gere desequilíbrio e bolhas de crédito. Espera-se que um novo afrouxamento da política monetária seja anunciado nos próximos dias pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), na tentativa de tirar a economia americana da crise.

Meirelles afirmou que a crise americana de 2001 mostrou que políticas monetárias expansionistas geram distorções que precisam ser enfrentadas. A preocupação é maior agora, para ele, porque essa nova expansão americana afetará outros países.

O problema dos países que já estão crescendo, que já saíram da crise, é que em tese eles não precisam desse excesso de liquidez. No nosso caso, temos que enfrentar as distorções imediatamente porque nós já estamos crescendo, então temos que tomar medidas imediatas para evitar que o excesso de liquidez na economia brasileira crie desequilíbrios que criem bolhas, sejam bolhas de crédito, de ativos, ou mesmo uma bolha de moeda afirmou.

Naquele que pode ter sido seu último encontro com os investidores internacionais na condição de presidente do BC, um debate sobre como consertar o sistema financeiro promovido pela revista britânica Economist, Meirelles foi escalado para dar uma palavra de cautela, falando sobre regras prudenciais. Respeitado nos EUA como um dos principais dirigentes de banco central do mundo, ele citou a experiência brasileira em lidar com crises e o saneamento do sistema financeiro brasileiro nos anos 90, que definiu como um exemplo para outros países. Segundo ele, o novo desafio é como conduzir políticas macroeconômicas sólidas e consistentes em um ambiente de alta volatilidade.

Meirelles prescreveu uma combinação de políticas para lidar com o fluxo de capitais sem criar desequilíbrios, com medidas macroeconômicas mais apertadas nos mercados emergentes, com medidas prudenciais e com um esforço para um entendimento global no âmbito do G-20.

No Brasil, estamos tomando medidas a tempo e na hora, temos comprado moeda na medida necessária. Já reforçamos as regras prudenciais do sistema bancário na medida suficiente, já tomamos medidas fiscais, estamos fazendo todo o necessário para evitar a formação de bolhas.

Segundo Meirelles, o mercado financeiro antecipou parte ou todo o afrouxamento quantitativo do Fed, e será preciso esperar o anúncio da decisão para uma avaliação.

Qualquer solução global agora passa por emergentes Meirelles disse ainda é cedo para avaliar o impacto das duas elevações de alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros e evitou especulações sobre novas decisões em análise. Ele disse que as regras de governança não lhe permitem falar sobre medidas futuras e não quis comentar as armas de grosso calibre que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na última segunda-feira estarem à disposição do governo.

O presidente do BC disse esperar uma coordenação mundial para lidar com a questão do câmbio e mencionou avanços nas últimas reuniões do G-20 e do FMI. Para ele, novos passos são possíveis na próxima reunião de chefes de Estado do G-20, no mês que vem, na Coreia do Sul, mas dependerão das condições políticas nos EUA e na China.

O ponto importante que saiu da última reunião do G-20 na Coreia (de ministros de Finanças e presidentes de BCs) é a mudança no sistema de cotas do FMI, que indica claramente que qualquer solução global, a partir de agora, passará pelos países emergentes. Esta é uma mudança fundamental na estrutura do poder econômico mundial disse Meirelles.

O presidente do BC justificou sua ausência na reunião, na semana passada, com motivos logísticos: a reunião do Copom terminou às 20h de quarta-feira, o que tornaria quase impossível chegar à Coreia a tempo. Ele alegou nunca ter faltado a uma reunião do Copom em quase oito anos no cargo. Sobre seus planos para o futuro, após o segundo turno das eleições presidenciais, Meirelles afirmou: Continuo, como sempre, completamente focado no meu trabalho. No momento adequado, tomarei a decisão sobre a melhor maneira de contribuir disse Meirelles, deixando implícito que estuda aceitar um cargo em um eventual governo Dilma Rousseff (PT).