Título: Dossiê: despachante diz que era monitorado por jornalista
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 27/10/2010, O País, p. 4
Amaury Ribeiro Jr. voltou a acusar petista de roubar dados de sigilo BRASÍLIA. Após a revelação de que dados fiscais de pessoas ligadas ao PSDB foram violados, o jornalista Amaury Ribeiro Junior passou a monitorar os passos do despachante Dirceu Garcia, que o acusou de encomendar o material em troca de R$ 12 mil. Em depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 22, o despachante afirma que era procurado mensalmente pelo jornalista, desde junho, sempre interessado em saber se estava ¿tudo bem¿ com ele.
Segundo o relato, as ligações culminaram, em setembro, com o pagamento de R$ 5 mil para que Dirceu ficasse calado sobre o escândalo. Segundo o despachante, a última conversa entre os dois, para tratar da encomenda de documentos junto aos órgãos oficiais de São Paulo, ocorreu em outubro do ano passado.
Os dois depósitos que totalizaram R$ 5 mil teriam sido oferecidos ¿por livre e espontânea vontade¿, depois que o nome do despachante Ademir Estevam Cabral apareceu no curso das investigações. Dirceu disse que ¿Amaury perguntou (...) quanto ele estava precisando¿ e que teria respondido que precisava de R$ 2 mil. O jornalista, no entanto, teria dito que o valor era pouco e que daria R$ 5 mil. Esta negociação teria ocorrido em São Paulo, entre 2 e 4 de setembro.
No depoimento que prestou anteontem à PF, Amaury foi questionado especificamente sobre este episódio, mas se valeu do direito de permanecer calado. Ele foi indiciado pela suposta prática de quatro crimes, entre os quais, corrupção ativa e quebra de sigilo.
Amaury voltou a afirmar que deu prosseguimento à sua investigação sobre as privatizações em 2007, após rumores de que um grupo ligado ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estaria promovendo uma investigação clandestina contra o exgovernador de Minas Aécio Neves.
Ele disse ainda que recebeu de um suposto integrante desta equipe a informação de que tal investigação estaria em curso.
Afirmou que ouviu relatos de que pessoas ligadas ao PMDB e à campanha de Dilma estariam ¿sofrendo pressão¿. O parlamentar nega as acusações.
No depoimento, o jornalista também disse que soube por um repórter da ¿Veja¿ que o coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), teria introduzido militantes do PT de São Paulo na pré-campanha de Dilma para vazar informações estratégicas. Afirmou que ¿dois militantes¿ teriam sido escalados para trabalhar como voluntários na campanha e disse acreditar que ambos eram os agentes inflitrados. Procurado, Rui Falcão não comentou o novo depoimento.
O jornalista também se valeu do direito ao silêncio para não explicar por quantas vezes ou em quais circunstâncias se hospedou no flat de Jorge Siqueira, funcionário de empresa que presta serviços ao comitê de Dilma em Brasília, como revelou O GLOBO na última sexta-feira. Ele apenas assinalou que Rui Falcão tinha a chave do apartamento e, por isso, tem certeza que o deputado foi o responsável pela cópia de sua documentação. O jornalista nega que tenha encomendado ilegalmente a devassa de informações fiscais junto à Receita Federal.
Rui Falcão protagonizou uma disputa por poder dentro da campanha de Dilma com o ex-prefeito de Belo Horizonte (MG) Fernando Pimentel. Já a Marka, empresa ligada a Falcão, entrou na briga por uma fatia da prestação de serviços de comunicação ao comitê com a Lanza, de Luiz Lanzetta.
Lanzetta era o coordenador do grupo de inteligência que implodiu após os primeiros rumores de que informações ilegais seriam utilizadas.
No depoimento de anteontem, os investigadores fizeram inúmeras perguntas a Amaury sobre sua relação com Lanzetta e com o diretor do ¿Estado de Minas¿, Josemar Gimenez.
Em todas as respostas, porém, ele ficou calado. Também não esclareceu se estava a serviço do jornal durante suas viagens a São Paulo, entre setembro e outubro de 2009, período em que foram violados os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e da filha de José Serra, Verônica Serra. O ¿Estado de Minas¿ nega que Amaury estivesse a serviço em suas idas à capital paulista.
À PF, o despachante Dirceu disse também que, em 2009, o jornalista teria pedido que ele assinasse recibo de R$ 300, em nome do jornal ¿Correio Braziliense¿.
Amaury, por sua vez, disse aos investigadores que não se lembra de ter feito tal pedido.