Título: Hemisfério Sul terá mais tempestade
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Fonte: O Globo, 28/10/2010, Ciência, p. 40

Supertormenta, com rajadas de vento superiores a 200 km/h, avança hoje pelos EUA

A IMAGEM da NOAA mostra a formação da tempestade não-tropical sobre os EUA: em seu início, ela já provocou 18 tornados

Eventos extremos como supertempestades devem estar na pauta das discussões da próxima cúpula do clima, a partir de 29 de novembro, em Cancún, no México. Esta semana um estudo indicou que as tempestades severas associadas ao aquecimento global afetarão mais o Hemisfério Sul. E ontem climatologistas americanos alertaram para a formação da maior tempestade não-tropical já registrada nos Estados Unidos. Ela poderá castigar hoje boa parte da Costa Leste e do Meio-Oeste americanos.

Diferentemente dos furacões, a supertempestade se originou em terra e se desloca pelo Meio-Oeste. Segundo o Weather.com, a tempestade tem ventos com força de furacão e já causou violenta chuva de granizo em Dakota do Norte. Em seu início, ela provocou pelo menos 18 tornados e 200 registros de rajadas superiores a 120 km/h. A tempestade é tão grande, que se estende do Mississippi, no sul dos EUA, ao Canadá. Ela já é maior que todas as supertempestades registradas, como a Edmund Fitzgerald, em 1975; a Tempestade Perfeita de 1991 e a Tempestade do Século, em 1993.

Aquecimento global dá mais energia para precipitações

De acordo com um estudo divulgado esta semana pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), os sistemas climáticos dos hemisférios Sul e Norte vão responder diferentemente ao aquecimento global. O aumento da temperatura do planeta afetará a disponibilidade de energia que alimenta as tempestades extratopicais. Os episódios mais intensos ocorrerão no Hemisfério Sul durante todo o ano, enquanto que, no Norte, o comportamento das precipitações dependerá da estação ¿ as chuvas tendem a ser mais fracas no verão e intensas no inverno.

A menor ocorrência desses eventos no verão do Hemisfério Norte pode levar ao aumento da poluição atmosférica, visto que haveria menor movimentação do ar para evitar o acúmulo de poluentes.

Mas o quanto as chuvas seriam mais fracas no verão? Depende da interação entre a atmosfera e os oceanos. E esta ligação, por sua vez, só pode ser determinada conhecendo a velocidade com que o gelo do Oceano Ártico desaparece. Ainda não há dados suficientes dos climatologistas para calcular como ocorre este derretimento a longo prazo.

Na Amazônia, 663 milhões de árvores derrubadas em 2 dias

Da mesma forma, tempestades mais severas durante todo o ano no Hemisfério Sul levariam a ventos mais fortes sobre o Oceano Antártico, provocando impacto na circulação oceânica, responsável por distribuir calor entre os oceanos do mundo.

Em 2005, uma linha de instabilidade tropical, como é chamado um aglomerado de tempestades em uma grande área, derrubou até 663 milhões de árvores na Amazônia em apenas dois dias. O aumento das temperaturas provoca maior vaporização. A formação de chuvas ganha frequência e severidade. Por isso, teme-se que as mudanças climáticas provoquem devastações ainda maiores na floresta nas próximas décadas.