Título: Saúde frágil preocupava Casa Rosada
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 28/10/2010, O Mundo, p. 35

Ex-presidente sofreu ataque cardíaco em rara folga na Patagônia. Cristina se recolhe após a morte

Correspondente

BUENOS AIRES. Néstor e Cristina Kirchner descansavam na residência de Los Sauces, na cidade de El Calafate, um dos principais destinos turísticos da Patagônia.

A notícia do dia era o feriado decretado para a realização do Censo 2010. Mas, durante a madrugada, o ex-presidente de 60 anos passou mal. Por volta das 7h foi levado para o hospital, onde sofreu ¿uma parada cardiorrespiratória não traumática, que não pôde ser revertida pelos médicos¿, segundo o comunicado divulgado pelos chefes da unidade médica presidencial, Luis Buonomo e Benito Alen González. A inesperada morte de Kirchner, às 9h15m, sacudiu, então, a Argentina.

O governo decretou luto oficial de três dias no país e todos os jogos de futebol foram cancelados pela Associação de Futebol da Argentina. Até a noite de ontem, a presidente Cristina Kirchner não havia se pronunciado ou mesmo aparecido em público.

Mas, segundo colaboradores do casal presidencial, ela se mostrou forte e assegurou que ¿agora temos de continuar trabalhando mais do que nunca¿.

Enterro deve ser no fim de semana, em Santa Cruz O corpo do ex-presidente deve chegar à capital argentina hoje de manhã ¿ o retorno foi atrasado para que a filha do casal, Florencia, de 19 anos, chegasse de Nova York, onde estuda cinema. Em Buenos Aires, milhares de pessoas se reuniram em vigília na Praça de Maio ontem à noite. No local, ministros e outros membros do gabinete prestavam homenagem a Kirchner.

Por decisão de Cristina, o velório será na Casa Rosada e não no Congresso Nacional, como prevê o protocolo. O enterro deve acontecer no próximo fim de semana, em Santa Cruz.

A notícia sobre a morte do ex-presidente foi comentada e lamentada pelos principais dirigentes políticos da Argentina. A presidente recebeu, ainda, mensagens de líderes do mundo inteiro, entre eles o presidente Barack Obama. Já o ex-jogador Diego Maradona decidiu seguir para Santa Cruz para prestar condolências à presidente.

Kirchner estava com a esposa, alguns amigos e colaboradores.

O filho mais velho, Máximo, de 34, estava em Rio Gallegos, capital da província de Santa Cruz, e chegou ao meio-dia. Os ministros do governo chegaram a embarcar para Santa Cruz, mas voltaram por ordens de Cristina, que decidiu realizar cerimônia íntima em El Calafate.

A saúde de Kirchner era motivo de preocupação no governo.

Em fevereiro passado, ele foi internado às pressas na clínica Los Arcos, em Buenos Aires, onde submeteu-se a uma intervenção para desobstruir a carótida direita. Em 11 de setembro, outro susto: o ex-presidente passou por uma angioplastia na mesma clínica portenha e, apesar das enfáticas recomendações médicas, teve alta em menos de 48 horas, retomando sua atividade política frenética.

A primeira internação de Kirchner ocorreu em abril de 2004, em Santa Cruz, por um problema gastrointestinal agudo, e anos depois, a presidente argentina admitiu ter temido pela vida do marido. Nos últimos anos, circularam rumores sobre a saúde de Kirchner, que tinha problemas intestinais que lhe impunham uma rígida dieta. Os médicos pediram que tentasse levar um ritmo de vida menos estressante ¿ mas os conselhos não foram seguidos à risca.

A última aparição pública de Kirchner foi na sexta-feira passada, na cidade de Chivilcoy, na província de Buenos Aires. Já em Santa Cruz, o casal presidencial caminhou pelas ruas do centro de Rio Gallegos e tirou fotos com alguns seguidores. Segundo pessoas que viram Néstor e Cristina, o casal estava descontraído e com vontade de percorrer os lugares que frequentavam quando moravam na região. Um dos últimos desejos do ex-presidente argentino foi tomar um cafezinho no Hotel Santa Cruz, onde sentou-se em sua mesa favorita e conversou com amigos. Durante o fim de semana, o ex-presidente não foi visto publicamente.