Título: Dilma diz que manterá câmbio flutuante
Autor: Freire, Flávio; Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 02/11/2010, O País, p. 11

Mas afirma que usará "de todas as armas para impedir dumping, política de preço que prejudique as indústrias brasileiras"

SÃO PAULO. A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), disse ontem que vai acompanhar com rigor o processo de guerra cambial internacional.

Em entrevistas ao Jornal Nacional, da Rede Globo, e ao Jornal da Record, ela garantiu que não fará mudanças nessa área, e que manterá o câmbio flutuante. Mas prometeu usar todas as armas e as reuniões multilaterais para impedir políticas de preços que prejudiquem as empresas brasileiras no comércio externo.

Há indícios fortes de uma guerra cambial hoje no mundo. Acho que há moedas subvalorizadas afirmou a petista, no Jornal Nacional.

Então, eu acredito que uma das coisas importantes são as reuniões multilaterais em que fique claro que nós, por exemplo, iremos usar de todas as armas para impedir o dumping, política de preço que prejudique as indústrias brasileiras, e vou olhar com muito cuidado, porque não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma.

Dilma atacou a política de câmbio fixo adotada no Brasil até 1999, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Não acredito que manipular (o câmbio) resolva coisa alguma.

Eu acho que o câmbio é flutuante. Nós temos uma péssima experiência disso. Você lembra o câmbio fixo, que levou a Argentina e quase nos levou também a um situação de crise muito grande? A nova presidente prevê crescimento menor da economia mundial no futuro, mas garantiu que será dura com os países estrangeiros.

Acredito que os ajustes das economias internacionais não podem ser feitos com base em desvalorizações competitivas.

Em que você tenta ganhar o seu ajuste nas costas do resto do mundo afirmou.

Segundo a presidente eleita, o país não pode retroceder à política dos anos 30, que se caracterizava pela desvalorização competitiva das moedas.

Garanto que uma coisa é certa: eu manterei todos os princípios que regeram o nosso governo no período do Lula.

São os princípios que fundam a estabilidade macroeconômica.

Não brincaremos com a inflação. Teremos metas inflacionárias da mesma forma que o governo Lula.

Sobre eventuais mudanças no Banco Central e Ministério da Fazenda, assegurou: Eu acredito que este será um dos anúncios que terei mais cuidado. Ainda não tenho essas decisões tomadas.

Dilma afirmou ainda que não fará anúncios individuais, fragmentados, dos novos ministros.

Vou me esmerar para ter um governo escolhido com critérios técnicos e políticos.

Pretendo não fazer anúncios fragmentados e espalhados.

Vou fazer por blocos garantiu Dilma.

Um dos primeiros compromissos oficias da nova presidente, segundo ela própria, será uma reunião com os governadores dos estados para tratar de temas como saúde e segurança.

No Jornal da Record, Dilma brincou com o fato de ter dormido anteontem na condição de presidente eleita.

Não diria que fiquei em estado de choque, mas você fica meio surpresa. Aí, em determinado momento, lá pela madrugada, perto do amanhecer, eu pensei: Ih, eu sou presidente do Brasil disse ela, que, durante a entrevista, fez questão de frisar a importância de uma mulher ter chegado ao poder.

Dilma: imprensa cumpre seu papel ao fazer críticas No Jornal Nacional, Dilma contou que chorou quando voltou para casa na noite de domingo.

E garantiu que manterá uma relação livre com a imprensa.

As críticas existem e têm o papel delas. Faz parte da democracia assegurou.

Ela ainda falou sobre a emoção de receber o cargo das mãos do presidente Lula: Vou ficar muito alegre por assumir a Presidência, mas triste porque é a despedida do presidente Lula.

A nova presidente também revelou que, inicialmente, se mostrou reticente quando Lula deu sinais de que a indicaria para ser a sua sucessora.

Ao poucos, (Lula) foi me convencendoafirmou, acrescentando que não fazia parte dos seus objetivos ser presidente.

Dilma contou ainda que passou o dia de ontem conversando com chefes de Estado, como os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy.