Título: Mineradora sofreu desgastes com o governo
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 29/10/2010, Economia, p. 31

BRASÍLIA. O anúncio de investimentos recordes pela Vale ocorre após um período de altos e baixos nas relações da empresa com o Planalto. Após a mineradora ter decidido, no auge da crise financeira internacional (entre o fim de 2008 e o início de 2009), suspender investimentos e cortar pessoal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Roger Agnelli, principal executivo da Vale, estiveram em rota de colisão por diversas ocasiões.

Na ocasião, Lula criticou dura e abertamente a administração da Vale, maior empresa privada do país. Antes, a mineradora calculava desembolsar US$ 14 bilhões em 2009, cifra recorde.

Mas, com o revés econômico, chegou a anunciar um corte drástico, passando seus investimentos para apenas US$ 9 bilhões.

Para piorar, demitiu 1,9 mil funcionários na época.

Nos bastidores, havia rumores de que o governo ¿ com aval do próprio presidente Lula ¿ começou a pressionar o Bradesco, um dos sócios controladores da Vale e o responsável pela indicação de Agnelli para a presidência da empresa. A ideia era tirar o executivo do comando.

Este ano, novos rumores circularam de que Agnelli poderia sair do comando da Vale, caso a candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, fosse eleita. O mandato de Agnelli acaba em meados do ano que vem.

Recentemente, o executivo afirmou que os rumores de que ele sairia da empresa eram resultado de ¿jogo político, jogo de eleição¿. Segundo o presidente da maior companhia privada do país, o que estaria por trás do ¿disse me disse¿, é que tem muita gente do PT ¿procurando cadeira¿.

Agnelli está na presidência da Vale desde 2001 e seu mandato expira em meados do ano que vem. A permanência ou não do executivo depende de um acordo entre acionistas da Valepar, holding que controla a Vale, com 53,5% das ações ordinárias (com direito a voto) da mineradora. Os acionistas da Valepar são o Bradesco (21,21%), a japonesa Mitsui (18,24%), a BNDESpar (11,51%) e a Littel (49%), que reúne fundos de pensão de estatais como Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras).