Título: Vale põe o pé no acelerador
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 29/10/2010, Economia, p. 31
Empresa dobrará investimentos para US$ 24 bi em 2011 e contratará 40 mil até 2015
SÃO PAULO
Apostando na forte recuperação da economia mundial, a Vale anunciou ontem investimento recorde de US$ 24 bilhões em 2011, quase o dobro dos US$ 12,9 bilhões que deverão ser desembolsados neste ano e 125% a mais do que acumulado nos últimos 12 meses até setembro passado (de US$ 10,7 bilhões).
O anúncio contrasta com o período logo após a crise de 2008, quando a companhia cortou gastos e engavetou projetos de expansão.
Dos investimentos previstos, US$ 15,318 bilhões (63,8% do total) serão direcionados para as operações da empresa no Brasil, onde está a maior parte da produção de minério de ferro, logística e ativos de fertilizantes, além de negócios no segmento de metais leves. Também receberão investimentos Canadá (US$ 1,959 bilhão), Argentina (US$ 1,393 bilhão) e Guiné (US$ 1,134 bilhão), entre outros.
Além disso, a mineradora brasileira ¿ que registrou lucro recorde no terceiro trimestre deste ano, impulsionado pela alta de preços do minério e maiores vendas ¿ pretende contratar até 2015 mais 40 mil trabalhadores em todas as suas unidades no mundo. Atualmente, a companhia emprega 65 mil trabalhadores diretos e outros 40 mil indiretos.
¿ O cenário é positivo para trabalhar a plena capacidade nos próximos 12 meses ¿ afirmou o presidente da Vale, Roger Agnelli.
O executivo acrescentou que a empresa está operando no limite de sua capacidade de produção em todas as suas unidades do mundo e que o mercado continua muito forte, puxado pela demanda da China, já que Europa e Estados Unidos ainda estão em processo gradual de recuperação.
¿ Certamente, este é o maior plano de investimento da história de mineração.
Boa parte será canalizada para o Brasil e mais da metade para minério de ferro e logística.
Agnelli critica política cambial
Ele afirmou ainda que a mineradora investiu, nos últimos quatros anos, também em ativos que ainda não começaram a gerar receita.
¿ A nova empresa que estamos construindo é quase do tamanho da que opera hoje.
Agnelli criticou a política cambial brasileira e de outros países produtores de commodities, onde a moeda local tem se valorizado muito ante o dólar. Segundo ele, o câmbio valorizado gera custos exagerados e pode prejudicar projetos de produção.
Agnelli disse que o preço do minério vai depender da demanda, mas ele crê que haverá uma tendência à estabilidade no início de 2011, após as oscilações registradas este ano. O sistema de reajuste de preços da Vale foi mudado em abril passado, quando os aumentos passaram a ser trimestrais e não mais uma vez por ano. Até agora, houve alta de 90% dos preços em abril e entre 30% a 35% em julho.
O foco dos investimentos em 2011 será o crescimento orgânico: 81,3% do orçamento (US$ 19,521 bilhões) serão alocados para financiar pesquisa e desenvolvimento e para projetos greenfield (começando do zero). Os investimentos serão gerados pelo próprio caixa da mineradora. A empresa espera ritmo de crescimento de produção anual de 16,3% entre 2011 e 2015.
Ao ser indagado sobre sua permanência na companhia após a eleição presidencial, o presidente da Vale disse que ¿o posicionamento da empresa está bem claro e dispensa comentário¿.
Para ele, a empresa é importante para o Brasil e qualquer que seja o governo trabalhará ¿próximo da companhia¿.
Um dia depois de anunciar lucro recorde, as ações da Vale recuaram ontem, com os investidores embolsando lucros da véspera. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) caíram 1,68% e os ordinários (com direito a voto), 1,92%.
Já a Usiminas anunciou ontem que seu lucro subiu 14%, para R$ 495 milhões, no terceiro trimestre. Os ganhos ocorreram apesar de uma queda nas vendas de 9%. O lucro ficou acima das previsões de analistas.
A CSN também informou ontem que teve lucro líquido de R$ 720 milhões de julho a setembro, queda de 37% em relação a um ano antes. A receita líquida foi de R$ 3,95 bilhões, um crescimento de 32%.
Já a Embraer divulgou queda de quase 4% no lucro líquido do terceiro trimestre, para R$ 220 milhões, frente um ano antes. A receita líquida caiu para R$ 1,82 bilhão, contra R$ 2,34 bilhões no mesmo período de 2009.