Título: Bancoop: tesoureiro do PT vira réu
Autor: Farah, Tatiana; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 29/10/2010, O País, p. 15

Juíza também determina quebra de sigilo fiscal de João Vaccari Neto, acusado de prejuízo de R$ 170 milhões

SÃO PAULO. A juíza Patrícia Inigo Funes e Silva, da 5aVara Criminal de São Paulo, aceitou ontem a denúncia do Ministério Público Estadual contra o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, por desvio de recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), quando ele dirigia a entidade. A juíza aceitou também a denúncia do MP contra outras quatro pessoas e ordenou a quebra do sigilo fiscal de Vaccari, que passa agora a ser réu na ação, como os outros acusados.

De acordo com o promotor José Carlos Blat, a Bancoop teria causado um prejuízo de R$ 170 milhões aos associados, e Vaccari é acusado ainda de desviar recursos para campanhas petistas.

O tesoureiro do PT e a atual diretora da cooperativa, Ana Maria Érnica, serão processados por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Bloqueio de bens de petista é negado por juíza Embora tenha acolhido a denúncia, a juíza negou o bloqueio de bens do tesoureiro petista e dos outros envolvidos, pedido pelo Ministério Público. O sigilo fiscal de Vaccari será quebrado no período entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2010, e o de Ana Maria, no de janeiro de 2005 a fevereiro de 2010. Outros acusados no processo, Tomás Edson Botelho Fraga, Leticya Achur Antonio, Henir Rodrigues de Oliveira e Helena da Conceição Pereira Lage, não terão seus sigilos quebrados, e nem responderão por lavagem.

¿ Vaccari não tem nada a esconder, mas vamos recorrer dessa medida. O Ministério Público sequer o ouviu em todos esses anos de inquérito (de 2007 até agora). Ele não teve a oportunidade de se pronunciar uma única vez ¿ disse o advogado de Vaccari e presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D¿Urso, para quem a afirmação de que tenha havido um rombo de R$ 170 milhões é fantasiosa.

Blat afirmou que Vaccari foi notificado, em agosto, para uma audiência na Promotoria, mas que alegou motivos pessoais para não comparecer. O promotor acrescentou que o tesoureiro do PT foi ouvido em outro inquérito policial, ligado ao processo, e em duas CPIs.

Embora tenha sido decretada a quebra de sigilo no último dia útil antes da eleição (hoje o Tribunal de Justiça de São Paulo está fechado), D¿Urso disse que Vaccari não ligou o caso ao momento eleitoral: ¿ Não tem nada a ver, e Vaccari não fez nenhuma manifestação neste sentido. Mas vamos recorrer do pedido de quebra de sigilo, e entregar a resposta da defesa à Justiça.

Além de apontar um rombo de R$ 170 milhões, o promotor afirma que há indícios de que cerca de R$ 200 mil foram repassados da Bancoop para o PT. Parte desse dinheiro teria sido doada por uma empresa laranja. A investigação também revelou que Vaccari endossou um cheque de R$ 50 mil da cooperativa, usado para pagar diárias relativas ao Grande Prêmio de Fórmula 1 de 2005.