Título: ONG que defende Sakineh faz apelo a Dilma
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Fonte: O Globo, 03/11/2010, O Mundo, p. 27

Iraniana pode ser enforcada ainda hoje. Itamaraty diz não ter recebido confirmação, e presidente eleita não comenta

Graça Magalhães-Ruether Correspondente

BERLIM. Após quatro meses de intensa luta pela suspensão da pena de morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério e envolvimento no assassinato do marido, o Comitê Internacional contra a Pena de Morte e o Apedrejamento apelou ontem à presidente eleita Dilma Rousseff, na tentativa de reverter a situação da condenada. Segundo ativistas, autoridades de Teerã já deram sinal verde para a execução da iraniana, que comoveu o mundo e reacendeu o discurso sobre os direitos da mulher.

Nome da condenada já estaria em lista negra Mesmo com o mais recente apelo, o Itamaraty informou que não obteve confirmação junto às autoridades do Irã sobre a pena, que seria cumprida hoje, conforme denuncia a ONG. Já a assessoria de imprensa de Dilma disse que a presidente eleita não comentaria o caso.

Como mulher, a presidente eleita deve ter uma sensibilidade maior para o caso argumentara ao GLOBO a líder do comitê, Mina Ahadi.

Segundo a ativista, o nome de Sakineh já estaria numa lista negra de pessoas que deverão ser executadas em breve no país.

Mina receia que a iraniana seja morta hoje porque quarta-feira é dia oficial de execuções no Irã.

A notícia sobre a possível execução deflagrou manifestações ontem em Berlim e Paris. Os protestos devem continuar ainda hoje, já que o Comitê convocou um ato em frente à sede da União Europeia, em Bruxelas.

Depois de dezenas de protestos em várias partes do mundo e da intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ofereceu asilo politico à iraniana sua família alimentava a esperança de que a sentença fosse revista. Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, o embaixador brasileiro em Teerã, Antonio Salgado, já foi avisado sobre os rumores e está à procura de informações sobre o caso.

Depois de ver as chances de sobrevivência de Sakineh desaparecerem, Mina acusou governos estrangeiros de priorizarem interesses econômicos.

O interesse (de Lula) no diálogo com Teerã era também econômico. A oposição iraniana ainda não esqueceu seu aperto de mão, sorridente, com (Mahmoud) Ahmadinejad, como se ele fosse um presidente democrático, e não o chefe de um governo islâmico fascista.

O anúncio da possível execução da iraniana esta semana repercutiu também em Itália, EUA, e União Europeia. Num comunicado, a Chancelaria italiana pediu que a pena fosse evitada. Já a chefe de diplomacia da UE, Catherine Ashton, exigiu que o Irãdetenha a execução iminente e reverta sua sentença.

De acordo com a ativista, haviam duas correntes junto ao governo iraniano, defendendo saídas diferentes para o impasse.

Uma delas, dos políticos mais liberais, pedia a libertação como forma de abafar os protestos.

A outra, dos conservadores, defendia a execução da pena como um fortalecimento do principal instrumento de pressão política na ditadura, a opressão.

O caso ficou conhecido pela sentença medieval de punir mulheres acusadas de adultério com o apedrejamento. Após muita pressão internacional, a Justiça resolveu alterar a pena para enforcamento.

A luta pela vida de Sakineh também levou seu filho mais velho, Sajjad, à prisão. Ele e o advogado da mãe, Houtan Kian, foram levados por forças de segurança quando concediam entrevista a dois jornalistas alemães.

Sajjad teria sido torturado com o objetivo de forçá-lo a fazer declarações negativas contra a sua mãe. Mina acusa também os responsáveis pelo caso de falsificação de dados para transformar a condenação por adultério em uma sentença por homicídio, pela sua suposta participação de Sakineh no assassinato do marido. COLABOROU: Roberto Maltchik, de Brasília.