Título: Vencedores podem se beneficiar do ciclo econômico
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 03/11/2010, O Mundo, p. 25

O impacto da atual onda contra os detentores de mandatos será julgado nos próximos dias pelo número de assentos que mudarão de mãos em Washington e nas assembleias legislativas de todo o país. A longo prazo, porém, a importância de qualquer onda eleitoral não é apenas sobre o grande número de assentos ganhos ou perdidos, mas também sobre quando a onda bate ¿ ou, mais especificamente, onde ela atinge os ciclos econômicos do país. E se você olhar dessa forma, a História sugere que o esperado big bang de 2010 pode muito bem acabar reverberando alto em nossa política por muito tempo.

Isso porque, nos próximos anos, o país pode experimentar o tipo de recuperação econômica que a Casa Branca esperava a tempo destas eleições. Esta não é uma certeza; alguns economistas ainda estão prevendo um longo período de estagnação ao estilo japonês. Mas a maioria dos observadores em Washington parece apostar no tipo de recuperação que é mais evidente para os eleitores.

E são os políticos que pegarem essa onda política nos momentos econômicos de boa fortuna ¿ particularmente governadores eleitos em momentos difíceis para, em seguida, presidir a ascensão ¿ que tendem a se estabelecer como heróis populares e especialistas em recuperação, aumentando sua projeção nacional não apenas por suas políticas, mas também pelo momento. O que poderia ser muito boa notícia para alguns republicanos, como John Kasich, que pode tornar-se o próximo governador de Ohio, ou para um desconhecido como Nikki Haley, que pode vencer na Carolina do Sul.

Não são apenas governadores, é claro, a se beneficiarem de um bom momento. Se os republicanos tiverem controle de uma ou de ambas as Casas do Congresso, uma economia em crescimento nos próximos anos poderá reforçar o perfil e a credibilidade de alguns dos líderes mais jovens do partido e suas ideias mais inovadoras.

Governadores têm uma habilidade especial para capitalizar mudanças no ciclo econômico. Volte a 1982, quando republicanos, ainda mergulhados na crise econômica que catapultou Ronald Reagan à Presidência dois anos antes, sofreram uma derrota estonteante nas urnas, apesar de não terem sofrido a onda maciça que temiam. Os democratas tiveram um ganho líquido de sete governos estaduais naquele ano. Entre os vencedores, dois ex-governadores derrotados antes: Michael Dukakis e Bill Clinton.

Dukakis aproveitou a recuperação econômica que se seguiu à sua candidatura a presidente pelos democratas em 1988, fazendo campanha focando na retomada do crescimento, que chamou de ¿O milagre de Massachusetts¿. Clinton aproveitou o mesmo período (embora no fim, tenha tido de governar durante a crise do fim dos anos 80 também) para melhorar a educação e estimular a criação de empregos no Arkansas, a caminho de se tornar indiscutivelmente a figura política mais influente de sua época.

Nada disto visa a sugerir que a economia, por si só, é destino. Ninguém pode contestar que Bill Clinton não estava entre os políticos mais talentosos da história moderna, ou que só porque ações de tecnologia estavam em alta, o cara fazendo café no 7-Eleven poderia ter governado como Rudy Giuliani. Mas isso sugere que os políticos que permanecem por mais tempo e com mais sucesso no cenário nacional tendem a ter sorte, tendo sido eleitos em anos de desassossego e tendo, ainda, sido capazes de reivindicar crédito para os períodos de relativa facilidade que se seguiram.

Assim, após o fechamento das urnas na noite de ontem, você pode querer dar atenção especial a um obscuro governador eleito, como Scott Walker em Wisconsin ou Susana Martinez, no Novo México, ambos republicanos. Se o presidente Obama estiver certo e a sombra que pairou sobre a economia neste ano eleitoral se endireitar, você poderá ouvir seus nomes outra vez, talvez mesmo em 2016.

MATT BAI é colunista político e escreveu este artigo para o ¿New York Times¿