Título: Dilma: discutir reeleição agora é botar carroça na frente dos bois
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/11/2010, O País, p. 4

Apesar de aliados articularem volta de Lula, ela lembra que 2º mandato é praxe

BRASÍLIA. A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), não descartou ontem a possibilidade de ser candidata à reeleição em 2014, mas disse que não quer discutir o assunto agora, mesmo com as notícias de que o presidente Lula planeja ser candidato em 2014. Em entrevista à TV Bandeirantes, ontem à noite, Dilma disse que, embora a praxe no país seja o presidente tentar um segundo mandato, ela não vai iniciar essa discussão antes mesmo de tomar posse.

A praxe é essa. Agora, sou mineira e prudente. Acho que essa é a praxe, hoje o presidente eleito tem direito à reeleição.

Agora, sem tomar posse, começar a discutir 2014, como vai ser, não dá, né? Acho que é botar não só a carroça na frente dos bois. É botar a carroça, os carros e os caminhões. Não é cabível isso disse Dilma.

Assegurarei ao país a questão da estabilidade econômica

Em outra entrevista, esta ao telejornal SBT Brasil, Dilma avisou que, independentemente dos nomes da sua equipe econômica, ela será a responsável direta pela manutenção da atual política. O presidente Lula teria sugerido a ela a permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para demonstrar no exterior que não haverá cisão na condução da atual política.

Mas Dilma não confirmou: É importante que se persiga a estabilidade macroeconômica, o equilíbrio macroeconômico, e atuamos sempre com um tripé: controle da inflação, câmbio flutuante e controle do gasto público. Não serão pessoas que vão ser responsáveis sobre isso. Sou eu que sou a responsável.

Como responsável, asseguro: seja quem estiver no exercício do cargo, assegurarei ao país a questão da estabilidade econômica. Não serão pessoas que serão responsáveis pela política econômica. Sou eu.

Dilma também afirmou que, até 2014, pretende reduzir a taxa de juros para até 2% ao ano, e que quer também reduzir os juros para o consumidor final. Sobre a possibilidade de o presidente Lula adotar medidas fiscais duras, para poupá-la de desgastes no início de seu governo, Dilma afirmou: Não acredito que o presidente vai tomar medidas duras, ele vai fazer aquilo que tem de fazer. Não tem o menor sentido fazer um saco de maldades.

Dilma disse que não vai aumentar ou criar novos impostos, como a antiga CPMF, para aumentar recursos da saúde: Pretendo fazer uma redução tributária. Pretendo reduzir os tributos sobre investimentos e sobre a folha de salário.

Ao Jornal da Band, voltou a afirmar, como havia feito em seu primeiro discurso como eleita, que é contra o controle de conteúdo da mídia. No entanto, declarou que é preciso distinguir controle de conteúdo do estudo de um novo marco regulatório, ao qual disse ser favorável.

O controle de conteúdo é um acinte afirmou, observando que é melhor ter uma imprensa crítica, ainda que o governo não concorde com o teor do noticiário, do que a volta da censura.

Ela afirmou que o marco regulatório deverá abordar temas como participação de capital estrangeiro e a integração entre as mídias: Mesmo assim, tem de ter muito cuidado, e aprovar um marco que permita adaptações ao longo dos anos.

Soberania na relação com os Estados Unidos

A presidente eleita afirmou que pretende manter a atual fórmula de reajuste do salário mínimo, que é a soma da inflação do ano anterior, mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Como o crescimento do PIB de 2008 foi negativo, o que daria ao mínimo apenas a reposição da inflação, Dilma afirmou que pode discutir com as centrais sindicais um aumento acima desse patamar.

Ela disse ainda que dará continuidade à política externa brasileira de privilegiar as relações Sul-Sul, ou seja, com países da América Latina e da África, por exemplo. Mesmo assim, declarou que pretende manter um relacionamento próximo com os Estados Unidos, desde que haja respeito à soberania brasileira.

Pretendo ter uma relação próxima com os Estados Unidos, mas com soberania. O mesmo respeito que quero, darei.

Ela elogiou o presidente Barack Obama por sua postura de negociador e falou sobre a ligação que recebeu de Obama após sua vitória, no domingo: Foi muito gentil. Eu já o conhecia das reuniões de que participei como chefe da Casa Civil, junto com o presidente Lula.

Eu tenho pelo presidente Obama a melhor das impressões.

Todas as vezes, vi uma pessoa que tentava construir a solução e não criar problemas.