Título: PT cede e inclui Temer na transição
Autor: Camarotti, Gerson; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/11/2010, O País, p. 3

Vice, porém, não terá papel definido; Dutra disse desconhecer insatisfação no PMDB

BRASÍLIA. Para apagar um curto-circuito com a direção do PMDB, deixada de fora do comando da equipe da transição técnica e política do governo Dilma Rousseff definido na véspera na primeira reunião com a presidente eleita, o nome do vice-presidente eleito, Michel Temer, foi incluído ontem como coordenador do conselho político. Mas isso só institucionalmente, porque, na prática, caberá ao ex-ministro Antônio Palocci coordenar a parte técnica, e ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, a negociação com os dez partidos que integram formalmente a coligação, além do PP e parte do PTB, que apoiaram Dilma extraoficialmente.

Como vice, Temer não terá papel definido na transição nem negociará com partidos a formação de governo. Por enquanto.

Essa coordenação de transição não vai discutir formação de governo. Estou mandatado pela presidente Dilma para ouvir os pleitos dos partidos. Vai ter essa conversa minha com os partidos, e quem vai definir ministério e participação de cada um é Dilma disse Dutra.

Ele disse desconhecer insatisfação na cúpula do PMDB pelo fato de peemedebistas não terem sido incluídos na coordenação da transição nem chamados para as primeiras reuniões.

Apesar de Temer não ter função definida no comando da transição, Dutra negou que ele vá ter papel de rainha da Inglaterra. Ontem à noite, os dois tiveram a primeira reunião formal para começar a discutir os pleitos do PMDB.

Por enquanto, Michel não tem tarefa definida.

Mas é o vice-presidente. Em algum momento, ele e Dilma vão atuar em sintonia fina para decidir a formação do governo disse Dutra, esclarecendo que Temer não ficará subordinado a ele: De forma alguma! Vou coletar informações dos partidos. Mas ele é o vice.

A subordinação é minha a ele.

O secretário nacional do PT, José Eduardo Cardozo, que também esteve nas reuniões informais com a presidente eleita ontem, disse desconhecer reação de insatisfação do PMDB.

Segundo Cardozo, na noite de segunda-feira mesmo, o PMDB foi informado de que Temer integraria a coordenação. Cardozo minimizou o fato de a reunião de anteontem ter ocorrido sem a presença de peemedebistas: Foi uma reunião informal, uma conversa livre, de balanço geral. O PMDB é partido parceiro e o vice eleito estará permanentemente conosco desenvolvendo os trabalhos. Vamos dar continuidade às relações de parceria entre PT e PMDB em clima de harmonia.

Ontem, em nova reunião informal com Dilma, o trio Dutra, Palocci e Cardozo começou a discutir os primeiros 30 nomes da comissão da transição, que pode ter até 50 pessoas do lado da presidente eleita. Por enquanto são técnicos e a lista é preliminar. Podem ser incluídos representantes dos demais partidos coligados.

Os grupos de transição começam a trabalhar oficialmente a partir do dia 8. Para funcionar, no CCBB, a comissão de transição precisa ser publicada no Diário Oficial, mas somente após a proclamação oficial do resultado da eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dutra informou ainda que Cardozo vai transitar pelas duas áreas, ajudando na conversa com os aliados e na área técnica coordenada por Palocci. E confirmou que, por enquanto, o candidato derrotado ao Senado Fernando Pimentel (PT) está fora da equipe de transição, Sobre o jantar que teria com Temer ontem à noite, Dutra disse que, a princípio, não seriam discutidos nomes para o Ministério. Mas, se fossem apresentados, ele os repassaria a Dilma.

Ontem, Dilma falou por telefone com a primeiraministra da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro da Espanha, Jose Luis Zapatero. Dilma tentou retornar a ligação da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, mas como Hillary está na Malásia, não foi possível fazer a conexão.