Título: Educação impõe revisão de prioridades
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Fonte: O Globo, 06/11/2010, Opiniao, p. 6

É oportuna a divulgação, pelas Nações Unidas, da atualização dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) no momento em que a equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, se prepara para trabalhar na transição de governos. É imperioso, porém, que a futura administração, o atual Congresso e o que assumirá em fevereiro entendam a mensagem transmitida ao Brasil pelos novos IDHs.

Na ditadura militar, no governo Médici, no auge do ¿milagre econômico¿, o general-presidente proferiu uma frase célebre: ¿A economia vai bem, mas o povo vai mal.¿ Tinha razão.

O processo de crescimento era concentrador de renda, e não havia políticas sociais como as de hoje para atenuar a pobreza. Agora, quando o lulopetismo alardeia a redução da pobreza ocorrida nos últimos anos e promete que tudo irá melhorar sob Dilma Rousseff, a pesquisa da ONU alerta: o Brasil vai bem em várias áreas, mas o futuro do país não está garantido. Ocorre algo como a armadilha que foi montada no bojo do crescimento acelerado da década de 70. A armadilha atual, projetada para o futuro, está na educação. O novo ranking de IDHs, calculado com muitas estatísticas de 2009, marca duas décadas de acompanhamento do mundo por meio do indicador.

Em função disso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud), responsável pelo índice, fez uma avaliação de 40 anos de desenvolvimento, na qual constata que a má qualidade da educação é o principal entrave ao país.

O Pnud fez mudanças na metodologia do IDH e, entre elas, substituiu a taxa de analfabetismo pela média de anos de estudo.

Assim, o índice se torna mais exigente sobre a qualidade do ensino, a capacidade de a estrutura educacional reter o aluno. O IDH brasileiro, no ranking geral, foi 0,699 ¿ quanto mais próximo de um, melhor ¿, ficando em 73olugar numa relação de 169 países, um avanço de quatro posições.

Mas, pelo método antigo de aferição, o índice era de 0,813.

Pelo novo sistema, houve uma queda de 15 posições, basicamente devido ao mau resultado na educação. Na véspera da divulgação do IDH, Dilma disse considerar a educação ¿muito bem encaminhada¿. Ela se engana.

Houve avanços na universalização de matrículas no ciclo fundamental. Mas, como revelou a própria ONU, a média de tempo de estudo do brasileiro (7,2 anos) é igual à do Zimbábue, o lanterna na relação dos IDHs.

É fato que ainda se investe pouco na edu-cação. Lula acaba o governo com gastos de 5% do PIB no setor. Dilma promete 7%, mas há quem reivindique 10%. Em termos de gasto por aluno, o Brasil, em 2006, entre países da Organização para a Cooperação ao Desenvolvimento Econômico (OCDE), era o penúltimo da relação de 33 países: só ganhava da Turquia.

É mais do que pertinente levantar a questão do subfinanciamento à Educação, quando se prepara mais uma rodada de aumento real do salário mínimo, com o impacto de bilhões nas contas da Previdência, bastante desequilibradas. O Brasil já despende em benefícios previdenciários e pensões 12% do PIB, como se contasse com uma população de idade mais avançada do que tem. E não investe o que deveria para melhorar o ensino e reter os alunos nas salas de aula, principalmente no ensino médio. Gasta o que não pode no presente e compromete o futuro do país, ao não qualificar as novas gerações à altura das exigências dos mercados de trabalho.