Título: Por trás das ofensas ao Nordeste, ataque ao voto
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 07/11/2010, O País, p. 12

Comunidades de relacionamentos ¿ como o Twitter e outras redes sociais ¿ e blogs, mais do que a troca de e-mails, são os principais caminhos para o crime de racismo pela internet.

É a avaliação do Grupo Especial de Combate aos Crimes de Ódio e Pornografia Infantil na Internet (Gecop), setor da Polícia Federal que investiga fatos como a onda de mensagens contra o Nordeste divulgadas no Twitter no domingo passado. As mensagens, em protesto contra a eleição de Dilma Rousseff, levaram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Pernambuco a entrar com uma notícia-crime no Ministério Público Federal contra a estudante de Direito Mayara Petruso, de São Paulo.

Delegado do Gecop, Marcelo Fernando Borsio diz que o grupo ainda não recebeu denúncias sobre as mensagens no Twitter. Ele afirma que o grupo apura hoje o caso de um blog também com mensagens contra nordestinos: ¿ Os crimes de ódio, onde entram os de preconceito, geralmente ocorrem de forma concentrada, com manifestações em blogs e comunidades de relacionamento.

Não é como a pedofilia, por exemplo, que está diluída em trocas de e-mails e imagens.

Para o sociólogo Gláucio Soares, o episódio no Twitter demonstra um pensamento que coloca a origem na frente do mérito, e se ligaria à própria formação da sociedade brasileira ¿ que, da mesma forma, coloca o indivíduo na frente do mérito quando alguém diz ¿sabe com quem está falando?¿: ¿ Ao fazer isso, deslegitima o voto de quem é do Nordeste, como se existissem votos mais racionais e qualificados que outros ¿ diz Soares, para quem as ¿discriminações regionais¿ são comuns em várias partes do mundo; no Brasil, porém, ainda não seriam percebidas como crime, como o racismo contra negros.

Autora do movimento ¿Dia do orgulho nordestino¿ no Facebook (que ocorreu ontem e até a noite de sexta-feira já tinha 4.700 adesões), a cientista social paulista Mira Caetano diz que decidiu criar o ato para tentar acalmar ânimos nas redes sociais.

¿ Eu me senti profundamente desrespeitada e preocupada com o pensamento de uma parcela da juventude brasileira, que se mostrou ignorante e preconceituosa ¿ afirma Mira, que morou na Paraíba por quatro anos.

Para ela, a campanha, no segundo turno, acabou propiciando as cenas de ¿ódio regional¿: ¿ Acabou abrindo espaço a um pensamento tão reacionário e conservador como o que foi expresso nas redes sociais.